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Jornal SBC 122 | Setembro 2012
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Aqualidade dosmédicos noBrasil
DEFESA PROFISSIONAL
José Xavier de Melo Filho
Diretor de Qualidade
Assistencial da SBC
josexavier@cardiol.br
Informações :
Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro – SOCERJ
Tels.: 21 2552 1868 / 21 2552 0864
socerj@socerj.org.br | www.socerj.org.br
SOCERJ
Sociedade de Cardiologia
do Estado do Rio de Janeiro
Venha participar do Congresso de Cardiologia na
cidade que é Patrimônio Mundial da UNESCO.
SOCERJ
30
Congresso de
Cardiologia da
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de abril de 2013
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30º Congresso de
Cardiologia da SOCERJ
Rio de Janeiro de braços abertos!
C o n e c t e E s t ú d i o D e s i g n
Em recente artigo da
Diretoria da Associação
Médica Brasileira, o tema
volta a ser debatido.
O Brasil é medalhista
no número de escolas
médicas. Temos a medalha
de prata, com 196 escolas
em atividade. Perdemos
apenas para a Índia.
China e Estados Unidos,
países com população
bastante superior – e, no
caso dos Estados Unidos,
muito mais rico –, contam com 150 e 137 escolas
médicas cada.
A expansão se acentuou desde a década de 1990,
especialmente no ensino privado, mas também no
público. Muitos cursos, inclusive de instituições
públicas, abrem sem hospital-escola ou mesmo uma
rede básica de ambulatórios para o treinamento
prático.
Não bastasse a expansão desordenada, vivemos uma
invasão de médicos formados no exterior, muitos
deles brasileiros, vindos especialmente de Cuba e da
Bolívia.
Segundo estimativas do Colégio Médico da Bolívia, há
25 mil brasileiros em cursos de medicina lá. Ausência
de vestibular, mensalidades irrisórias e o baixo custo
de vida comparado com o Brasil atraem os jovens
para o eldorado boliviano.
O problema é que, além de essas escolas terem
centenas de alunos por turma, nelas falta tudo,
inclusive pacientes para o treinamento prático.
A tentativa de revalidação de diploma desses
candidatos a médicos revela números alarmantes.
Nossas universidades estatais têm autonomia para
realizar a avaliação de egressos de universidades
estrangeiras. Por causa da baixa qualidade das
avaliações em alguns locais e por pressão de
entidades médicas, o Inep criou em 2010 o Revalida,
exame para unificar essa avaliação.
Aderiram ao projeto piloto 37 instituições públicas de
ensino superior. Na primeira edição, de 517 inscritos,
somente dois foram aprovados. Na segunda edição, em
2011, de 677 inscritos, apenas 65 foramaprovados (9,6%).
Hoje, as escolas médicas no Brasil oferecem 16.892 vagas
por ano. Nos programas de residência, padrão para
formação de especialistas, há 10.196 vagas de acesso
direto disponíveis para os recém-formados.
Desconsiderando a ociosidade nos programas
de residência e as desistências durante o curso,
podemos inferir que só 60% dos médicos têm
acesso à especialização. Entram no mercado, sem
treinamento adicional, mais de seis mil médicos ao
ano.
O exame realizado desde 2005 pelo Conselho
Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) é
prova da péssima qualidade da formação médica
no Brasil. Em sete anos, 46,7% dos 4.821 alunos
que realizaram o exame foram reprovados. Como
a adesão era voluntária, é cabível supor que os
alunos que se consideravam mais bem preparados
prestaram o exame.
Tal contingente de médicos mal formados, sem
especialização, entra no mercado de trabalho e nele
fica por cerca de 40 anos. Muitas vezes não sabe
coletar a história clínica nem examinar o paciente.
Solicita exames além do necessário, pois não soube
chegar ao diagnóstico na consulta.
São médicos que não sabem interpretar exames e
terminam encaminhando o paciente para recursos
de maior complexidade, superlotando hospitais
e prontos-socorros, abarrotados de casos que
deveriam ter sido resolvidos no posto de saúde.