• Ano: XXI

  • Número: 144

  • Mês: Julho

Jornal SBC entrevista Eleuses Paiva

 

Jornal SBC: Deputado, existem inúmeras bancadas suprapartidárias, como a dos ruralistas, evangélicos, professores etc. Não deveria haver uma dos médicos, já que existem mais de 30 deputados médicos no Congresso? Uma bancada médica não poderia defender e criar uma frente contra programas como o “Mais Médicos” ou pelo menos exigir prova de capacitação para os médicos estrangeiros?

Eleuses Paiva: Sem dúvida, uma bancada mais ampla e mais comprometida com questões corporativas e gerais da saúde seria importante. Tenho observado que os médicos estão se conscientizando de que é necessário ampliar sua representatividade no Congresso Nacional, e mais, ampliar o número dos que defendem uma política séria para a saúde. Hoje, nem todos os deputados médicos atuam voltados para o setor. Até porque a maioria chegou lá por meio de militâncias meramente político-partidárias ou regionais. Então, nem sempre o tema saúde tem sido prioridade desses parlamentares. Haja vista como alguns se comportaram diante do projeto do governo que instituiu o programa “Mais Médicos”. É oportuno e necessário formar uma bancada suprapartidária de médicos comprometidos com os problemas da categoria e da saúde, e conscientes de que saúde não pode ter viés partidário. Saúde tem de ser política de Estado e não de governos.

Jornal SBC: Por muitos anos os médicos foram avessos à política ou diríamos mais recatados nessa área. O senhor acredita que o momento político mudou essa postura? Os médicos estão mais engajados atualmente do que em um passado recente?

Eleuses Paiva: Exatamente. O engajamento é um fato visível. O questionamento do caos na saúde é pauta viva nas associações médicas dos estados e do país. Neste momento político, quando a gente está assistindo a uma crise moral e ética, com quadrilhas incrustadas em partidos e nos governos, é muito importante esse engajamento dos médicos e de outras classes profissionais no debate e na militância para melhorarmos o quadro político. Vejo os médicos mais conscientes de que é necessário se engajar politicamente e ampliar a luta em defesa de melhores condições para a categoria e para o atendimento à saúde. Mas é necessário também ampliar a participação da categoria no processo político-eleitoral. Os médicos, historicamente, têm tido papel importante na discussão das questões políticas, mas é necessário transformar essa militância em ações que ampliem a presença dos médicos nas cadeiras do Congresso.

Jornal SBC: O senhor, que é bastante atuante na defesa da classe médica, acredita que se os médicos se envolvessem mais na política, a sua atuação e articulação no Congresso poderia ser ainda melhor, ou seja, com resultados ainda mais expressivos na defesa da categoria?

Eleuses Paiva: Já se assiste a um engajamento crescente, promissor e louvável dos médicos na política, o que deve permitir o surgimento de novas lideranças, com bons resultados para a categoria, para a população e para a saúde no país.

Jornal SBC: Que mensagem gostaria de passar aos cardiologistas?

Eleuses Paiva: Aos cardiologistas e a toda a categoria médica... É importante estarmos unidos na busca de uma política de saúde que reverta em benefício da sociedade e também dê condições aos médicos de um atendimento à altura das necessidades. Ao mesmo tempo, a categoria, organizada deve pressionar o Congresso em apoio aos projetos que vêm ao encontro desses anseios, como por exemplo, a PEC 454/2009, que apresentei junto com o também deputado médico Ronaldo Caiado (DEM-GO), e que propõe a criação da carreira de estado para médicos, semelhante ao que existe para juízes e promotores de justiça. Ao invés de importar médicos sem qualquer avaliação de sua formação profissional, a PEC dispõe que os médicos serão submetidos a concursos, o que garantirá uma seleção pela qualidade, e os aprovados serão encaminhados pelo governo às regiões com carência de profissionais. Outro tema que precisa mobilizar a categoria é o financiamento adequado da saúde. O Congresso discute o projeto de iniciativa popular que pretende destinar 10% da arrecadação bruta do país à saúde. A união da classe médica no acompanhamento destas propostas e de outras que buscam contribuir para mudar o quadro da saúde é fundamental.

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