Dia a Dia do Cardiologista


Vacina contra H1N1 diminui o risco de infarto

Embora a gripe seja tradicionalmente associada a complicações respiratórias, sequelas cardíacas são cada vez mais reconhecidas

São vários os estudos que comprovam as complicações cardiovasculares relacionadas ao vírus Influenza, que vão desde alterações eletrocardiográficas assintomáticas até o infarto agudo do miocárdio. Por esse motivo, a SBC apoiou a 18ª Campanha Nacional de Vacinação, que teve início em 30 de abril (e antecipada em diversos estados).

O presidente do Departamento de Cardiogeriatria da SBC, José Maria Peixoto, lembra que durante a pandemia de gripe em 2009, cerca de 83.300 mortes relacionadas ao aparelho cardiovascular no mundo foram atribuídas à infecção pelo H1N1.

A infecção por Influenza também é associada ao infarto do miocárdio. “A evidência mais convincente vem de ensaios de vacinação da gripe, que demonstraram redução de 67% no risco de infarto do miocárdio e uma diminuição na mortalidade cardiovascular de 8% para 2% em indivíduos vacinados comparado aos indivíduos não vacinados (RR 0,25 – 95% CI 0,07-0,86 ; p = 0,01)”, enfatiza Peixoto.

O mesmo estudo comprovou que o efeito protetor da vacinação contra gripe foi maior em idosos, com uma redução de 19% do risco de internação por doenças cardiovasculares, de 23% nos acidentes vasculares cerebrais e de 50% da mortalidade por todas as causas, durante temporadas de influenza. “Mas apesar da recomendação atual de vacinação para pacientes com doença cardiovascular subjacente, a cobertura continua a ser insuficiente”, conclui o presidente do Departamento de Cardiogeriatria da SBC.

Outras vacinas

José Maria Peixoto lembra que a vacinação é um dos instrumentos de promoção da saúde capazes de contribuir para a melhoria na qualidade de vida das pessoas. “A Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda a prevenção de doenças imunopreveníveis por meio de vacinas, especialmente para doenças pneumocócicas, hepatite B e a gripe, em pessoas acima de 50 anos”.

Estudos sobre H1N1

Em um estudo com 30 adultos infectados pelo Influenza, 53% tinham anormalidades ao ECG no primeiro dia da doença e 23%, no décimo primeiro dia, embora sem elevação da troponina ou alterações à ecocardiografia. De maior gravidade, 15% dos recrutas do exército infectados pela gripe tinham evidências de miocardite com aumento dos níveis séricos das enzimas cardíacas e alterações da contratilidade miocárdica à ecocardiografia.

Em 2009, um estudo belga que avaliou as alterações ecocardiográficas em pacientes criticamente doentes infectados pelo H1N1 demonstrou que 72% dos 39 pacientes avaliados exibiam função ventricular anormal; 46% por cento (n = 13) tinham disfunção ventricular esquerda isolada; 39% (n = 11) tinham anormalidades do ventrículo direito e 14% (n = 4) tinham disfunção biventricular. Curiosamente, enquanto a função ventricular esquerda tendia a normalizar após um declínio inicial, as anormalidades do ventrículo direito pioravam ao longo do curso da doença.

Mais vacinas

Uma pesquisa realizada no Brasil mostrou que 72% das pessoas já se vacinaram após os 50 anos de idade. Desse percentual, 58% vacinaram contra a gripe H1N1, 32% contra o tétano, 5% contra a hepatite B e somente 4% contra a pneumonia, o que é preocupante especialmente em idosos, uma vez que a doença pneumocócica é a causa número 1 de mortes evitáveis por vacinação. O risco de pneumonia pneumocócica aumenta com a idade, devido às alterações do sistema imunológico e aumento das comorbidades. Para pessoas acima de 60 anos, a Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda as seguintes vacinas: reforço da difteria e tétano, pneumocócica, Influenza (gripe), febre amarela (dependendo da localidade ou viagens), coqueluche, hepatites A e B.

Referências
Fischer WA, Gong M, & Sevransky J. (2014). Global burden of influenza as a cause of cardiopulmonary morbidity and mortality. Global Heart, 9, pp. 325-36.
Imunizações, S. B. (n.d.). http://sbim.org.br/.