Jornal SBC 172 | novembro 2016 - page 3

A voz que vem do coração
Coração, o motor do sistema cardiovascular que escolhemos
como especialidade, é muito mais que um emanharado de
células. É o símbolo maior da vida, da saúde, dos sentimen-
tos, entre os quais o maior deles, o amor. Representa ainda
a essência, a sensibilidade, a verdade, o ritmo. Esse órgão,
que pulsa a uma incrível cadência de 100 mil batimentos por
dia, exprime o próprio compasso da vida, ora mais rápido
para acompanhar o presto do dia a dia, ora mesmo o “allegro
assai vivace” da emoção de um beijo. Mas o coração tam-
bém sabe entoar um “adaggio” quando é hora do acalanto
ou um “largo maestoso” quando chega o sono ao fim do dia.
É curioso pensar que o coração começa a bater com pou-
cas semanas de fecundação, ainda no útero materno, e nos
acompanha até os últimos arpejos da vida, indo muitas vezes
até além do nosso fim, pois pode ser transplantado levando a
luz da vida a outra pessoa.
Na Bíblia Sagrada, a palavra “coração” aparece 876 vezes,
como em “o bom homem tira boas coisas do bom tesouro de
seu coração”.
O Alcorão nos diz que “obedecer às paixões leva à não sa-
bedoria, enquanto que a obediência ... a sede da sabedoria
é o ‘coração’”. “Em verdade, é na lembrança de Deus que o
coração encontra conforto.”
Na Torá, a primeira palavra é “bereshit”, que significa “no
princípio” e começa com a letra “beit. A última palavra da
Torá é “Yisrael”, que termina com a letra “lamed”. Quando
juntamos a primeira e a última letra da Torá, temos “lev”, a
palavra hebraica para coração.
De acordo com o hinduísmo e o budismo, o corpo humano
possui sete “centros de força” utilizados para a recepção e
transmissão de energias. Estes são conhecidos como cha-
cras. “Anahata” é o “chacra do coração”, simbolizado por
uma flor circular com doze pétalas verdes que representa a
união do masculino e do feminino.
Quantas lindas palavras surgiram a partir do coração: “cor”,
que ornamenta a vida em seus muitos tons; “acordar”, nos
despertando para o novo, o belo e o essencial; “recordar”,
resgatando a memória das pessoas e dos momentos; “cor-
dialidade”, a fundamental forma de nos relacionarmos como
mundo e com nossos pares; “acordes”, a combinação de no-
tas que fazem a harmonia de todas as músicas que existem;
e “coragem”, que nos traz a força para enfrentar os constan-
tes desafios.
Mas se é com alegria que celebramos as primeiras batidas
de um coração anunciando a chegada de uma nova vida, é
com tristeza e comoção que recebemos a notícia de que,
após trilhões de pulsações, o coração encerra a sua melodia.
Mas há quem, como eu, acredite que a voz do coração nunca
se cala, pois quando isso acontece, apenas perde uma só
letra e se transforma em “oração”.
Palavra do Presidente
MARCUS VINÍCIUS BOLÍVAR MALACHIAS
Foto: Pedro Vilela
Leitor
Críticas, elogios, sugestões para o
Jornal SBC
podem ser enviados para:
O sócio remido da SBC Carlos Peres da Costa encaminha
e-mail parabenizando a diretora Gláucia Moraes de Oli-
veira pelo cargo recentemente assumido de presidente da
Federação das Sociedades de Cardiologia de Língua Por-
tuguesa (FSCLP). Na mensagem, Carlos Peres da Costa
aponta um erro na entrevista feita com Gláucia e publicada
na edição número 167 deste
Jornal SBC
, onde lusófonos
foram citados como luso-descendentes. Para os eventos
da FSCLP são convidados cardiologistas das cinco na-
ções que fazem parte da Federação, além de especialistas
de Macau, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe e lusófonos
de Goa e Venezuela.
O sócio José Nicoliello Viotti entrevistado para a coluna “Co-
ração Valente” encaminhou carta ao presidente da SBC.
“Com orgulho de mineiro e cardiologista, acompanho a sua
brilhante trajetória na condução da nossa SBC. Ao longo de
sua vida profissional, foram tantas as oportunidades em que
pôde demonstrar sua capacidade administrativa, fineza e
educação no trato com o próximo, além de sua elegância
pessoal que enaltece a Sociedade que representa. Você,
com a sua capacidade inovadora, criou esta página Cora-
ção Valente, que veio servir de estímulo aos colegas que,
vivenciando períodos nebulosos em suas vidas, encontrem
estímulo para continuarem lutando”.
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