Jornal SBC 190 | Maio 2018

Nos meus estudos diuturnos, em busca de aprimoramentos e novos conhecimentos na especialidade cardiológica, não procuro sempre me deter aos seus imperscrutáveis avanços trica, e busco, concomitantemente, mergulhar no contexto humanístico, romântico e filosófico da profissão médica. Fiquem certos, meus caríssimos leitores, no mister do meu dia a dia de cardiologista, seja no consultório, ou a beira do leito de um paciente hospitalizado, tenho conseguido recu- perações das mais vitoriosas. Além do tratamento técnico convencional, transmito, tanto ao enfermo, como a seus fa- miliares, suavizo e atenuo os sofrimentos de ambos, fazen- do aflorar o lado romântico e simbólico do coração, incutindo naquelas mentes angustiadas que o coração não é tão as- sustador assim, e que as partes envolvidas, entrecortadas de alegria, contentamento e emoções, não têm ou- tra atitude a fazer, senão, da forma mais co- movente, balbuciar: “Obrigado, doutor!”. E o doutor cardiologista, orgulhoso de espírito, alma e coração, em pa- lavras baixinhas, agradece ao Mé- dico dos Médicos: “Obrigado, meu Deus, por mais essa vitória!”. Esse é o grande segredo para os que sofrem dos males do coração, que, sendo sub- metidos a essa terapêutica, o resultado não será outro: a bomba da vida repleta dos mais altos sen- timentos, associada à patologia sob controle clínico. O caminho a seguir é retilíneo e alvissareiro: longevidade, com boa qualidade de vida. Portanto, vislumbrando recentemente um bucólico e po- licrômico jardim, de beleza extasiante, fixei meus olhos numa linda flor, que logo associei ao simbolismo, que aumenta cada vez mais em ecletismo, com o coração, como reservatório dos mais altos sentimentos e situa- ções metafóricas, que conduz ao acalanto e ao roman- tismo, levando-nos a sublimes inspirações. Assim, veio de súbito comparar dessa vez o ictus cordis a uma flor: o coração é como uma flor − se não for aberto, não pode liberar sua fragrância ao mundo. A fragrância do coração é composta pelas qualidades e virtudes de nosso espí- rito. Porém, em um mundo que machuca, a maioria de nós aprendeu a fechar o coração. Abrir o coração hoje parece exigir tremenda coragem. É uma coragem que só vem quando nos damos conta de que ninguém pode nos ferir, independente do que digam ou façam. É uma coragem que vem da realização de que somos seres conscientes, inabalá- veis e naturalmente virtuosos. Para um coroamento final, não po- deria esquecer a sentença lapidar do grande Antoine de Saint-Exupéry, o notável defensor da teoria do exis- tencialismo, quando, em seu livro O Pe- queno Príncipe, ele sentenciou: “O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração”. Eu acrescentaria, em forma de paródia: “O essencial pode ser invisível aos nossos olhos, mas nunca deixa- rá de ser visto, aos olhos do coração”. O simbolismo do coração é imprescindível na recuperação dos pacientes Crônicas do Coração por Fernando Lianza Dias r er a ia za ias Fernando Lianza Dias é especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, médico Preceptor de Cardiologia, Chefe do Serviço de Risco Operatório do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB, Diretor Científico da Cardioclin e Coordenador do Núcleo de Prevenção das Doenças Cardiovasculares no Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal Da Paraíba (UFPB). 30

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