Jornal SBC 188 | Março 2018

23 tando ao Brasil comunicou as novidades a Fernando Paulino e relatou a decisão de fazer cirurgia cardíaca, o médico e amigo o orientou para se especializar nos EUA e escreveu ao colega Glover, que o convidou para fazer um estágio em seu serviço. Na ocasião o Ministé- rio da Saúde só autorizou a viagem aos EUA mediante pedido de licença, abrindo mão dos honorários, condi- ção que Domingos acatou imediatamente. Lá chegando, em 1956, deixou a esposa e os filhos mais velhos no Brasil, ficou frequentando por meses o hospital da Universidade de Mineapolis com Lillehei, considerado o pai da cirurgia cardíaca moderna e todas as sextas-feiras ia para a cidade de Rochester assistir cirurgias no serviço de Kirklin, na clínica Mayo. Assistia também as operações médicas da China, Japão, Rús- sia e outros países com o Brasil, época que Zerbini, Fe- lipozi e Bitencourt também estavam lá. Assim, após um ano, voltou para o Brasil e trouxe para a Casa de Saúde São Miguel o conhecimento e o instrumento necessário, tudo financiando por Fernando Paulino. Em 1958 sem ajuda, enfrentando preconceito a Casa de Saúde São Miguel lançava pioneiramente os alicerces da cirurgia cardíaca no Brasil de maneiras rotineira. A aplicação prática desses métodos não representa- vam apenas enormes conquistas, significavam o início de uma nova era na história da Medicina e da cirurgia. No laboratório de cirurgia experimental da São Miguel, foram realizadas inúmeras experiências com cães e Domingos com Valdir Jazbik usavam oxigenador de bo- lhas adaptado por Lilehei. Houve necessidade de melhorar a perfusão principal- mente quando em cirurgias mais demoradas, complica- ções pós-perfusão, com o sangramento, inibia a ousa- dia de fazer cirurgias mais complexas, e assim, como num dia mágico, Domingos solucionou o que dificultava tantas cirurgias e diminuía a expectativa de sobrevida de tantos pacientes, o sangue que era direcionado na circulação extracorpórea que era em torno de 3l/pa- Professor Domingos Junqueira de Moraes ciente, foi substituído por plasma e soro fisiológico, era a hemodiluição. A nova e brilhante ideia foi testada primeiramente em cães onde ficou comprovada sua eficiência. No início foi contestada, pois acreditavam que o que não deixava san- grar era o sangue fresco. Com o tempo, a classe médica foi dando valor a hemodiluição, principalmente, após o pri- meiro artigo publicado na revista Brasileira de Cirurgia, em 1960 e em seguida, em revista de íngua inglesa, sendo citado como referência em livro da especialidade. Depois que os médicos perceberam a vantagem da hemodiluição eles começaram a fazer cirurgias cardíacas em todos os estados brasileiros com esta técnica, que foi considerada como uma das 20 maiores contribuições da cardiologia brasileira para a cardiologia mundial.

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