Jornal SBC 194 | setembro 2018
Jornal SBC: Quais os riscos e os benefícios do jejum intermitente? Marcus Malachias: As evidências são ainda limitadas, sendo a maioria dos estudos realizada em animais. Mas já há alguns ensaios em humanos, com resultados interes- santes. A pesquisa experimental brasileira do ICB da USP revelou efeitos negativos no organismo de ratos que fica- vam 24 horas em jejum e, nas 24 horas seguintes, tinham dieta livre. Há de se considerar que a pesquisa foi realizada com animais muito jovens, ainda em fase de crescimen- to. Além disso, a modalidade adotada de JI de 1:1 dia foi bem mais radical que o usualmente adotado em humanos, que é de 2 dias na semana. Uma pesquisa norte-america- na, contudo, realizada com ratos adultos (de 10 a 18meses, o que corresponde a 25 a 45 anos de idade em humanos), revelou que o JI levou à redução do peso e ao aumento da expectativa de vida em 30%. Além disto, experimentos com camundongos submetidos ao JI revelaram até 40% menos declínio da função cognitiva com a idade. A maior utilização de cetona no JI parece proteger a integridade da substância branca cerebral dos efeitos do envelhecimento. Há indícios de que o JI promova ainda um aumento de si- napses em neurônios granulares do hipocampo dentado e maior liberação de fator neurotrófico cerebral, auxiliando o aprendizado e a memória. JSBC: O que dizem as pesquisas em humanos sobre o assunto? Marcus Malachias: Em três estudos, com 12 horas ou mais de JI (mas menos de 24 horas) houve perda sig- nificativa de peso (< 5,0 kg) e da gordura corporal, sem alteração da massa magra. Outros nove ensaios de JI de 24 horas parcial e um estudo de total, em dias alter- nados, demonstraram reduções ainda mais significativas no peso corporal (> 5,0 kg) e massa gorda, sem reações adversas significativas. JSBC: Além da perda de peso, há outros benefícios de- monstrados? Marcus Malachias: Nos estudos, o JI promoveu reduções de 6% a 21% no colesterol total, de 7% a 32% na LDL, e de 16% e 42% nos triglicerídeos. Houve significativa queda na pressão arterial sistólica (3% a 8%) e diastólica (6% a 10%) após 6 a 24 semanas de JI. Em indivíduos com sobrepeso e pré-diabetes, ocorreram melhora da sensibilidade à insu- lina e redução da glicemia (3% a 6%). JSBC: Quais as perspectivas de uma maior utilização do jejum intermitente? Marcus Malachias: O controle de peso constitui um dos mais difíceis desafios da prática clínica. O JI revela-se como mais uma alternativa a ser considerada em casos selecionados, junto da restrição alimentar, da prática de exercícios físicos e do uso de fármacos, quando indicados. Atualmente, considero ainda não haver segurança para o emprego do JI em crianças, adolescentes, diabéticos em uso de medicamentos e pacientes com risco cardiovascu- lar ou global alto. Referência principal: Anton SD, Moehl K, DonahooWT, Marosi K, Lee SA, Leeu- wenburgh C, et al. Flipping the Metabolic Switch: Under- standing and Applying the Health Benefits of Fasting. Obe- sity (Silver Spring). 2018; 26(2):254–68. 20
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