Jornal SBC 205 | agosto 2019

Protásio Lemos da Luz é Professor Sênior de Cardiologia do InCor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Angioplastia versus cirurgia em doença arterial coronariana Chama atenção artigo publicado no JACC em março de 2019 intitulado “ PCI and CABG for Treating Stable Co- ronary Artery Disease ”. É uma excelente revisão sobre angioplastia (ATC) e cirurgia de revascularização mio- cárdica (CRM) em doença arterial coronariana crônica. Os autores analisaram cuidadosamente os últimos estu- dos sobre o tema. Destacam-se os seguintes pontos: A maioria dos infartos agudos (IAM) ocorre em lesões obstrutivas; no entanto, quanto mais severa a obstrução coronária, maior probabilidade de IAM nestas lesões. Embora aparentemente paradoxal, este achado se ex- plica porque o número de lesões não obstrutivas é muito maior que as obstrutivas. O maior fator determinante da sobrevida pós-ATC ou CRM é o IAM. A ATC não aumentou sobrevida em nenhum estudo a médio ou longo prazo. Isto se deve ao fato de que a ATC atua sobre lesões ≥ 70% ie obstrutivas, e os infartos ocorrem frequentemente em lesões menores. Relação Médico Paciente por Protásio Lemos da Luz Por outro lado, a CRM a médio ou longo prazo associa-se a maior sobrevida; a razão é que a CRM reduz IAMs, induz cir- culação colateral cirúrgica e, assim, protege mais territórios sujeitos à isquemia. Outro fato não mencionado no artigo é que as anastomo- ses com mamária protegem os leitos arteriais a jusante, porque a mamária sadia continua a produzir óxido nítrico e, portanto, protege o endotélio. Já stents tendem a suprimir a vasomotricidade. Na prática, pacientes preferem - e muitos médicos também - a ATC porque é menos invasiva e dá bons resultados a curto e médio prazo. Porém, em longo prazo, a CRM oferece van- tagens, especialmente em diabéticos, em três vasos e em disfunção ventricular. Esses fatos devem ser considerados nas indicações de revascularização miocárdica, personali- zando o tratamento. Referência: Doenst T, Haverich A, Serruys P,  Bonow RO, Kappetein P, Falk V, et al. PCI and CABG for treating stable coronary artery. JACC. 2019;73(8):964-76. 29

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