Jornal SBC 198 | janeiro 2019

A maioria das pessoas se preocupa bastante com as doen- ças, mas poucas com a boa saúde e outras diversas coisas da vida. As mentes comuns estão sempre fascinadas pelo extraordinário, enquanto as mentes extraordinárias se fas- cinam também pelas coisas comuns. Na época das gran- des navegações marítimas, o médico escocês James Lind (1716-1794) descobriu a maneira de combater o escorbuto, ao observar algo comum: o uso diário de suco de frutas prevenia a doença entre os marinheiros. Edward Jenner (1749-1823) desenvolveu a vacina contra a varíola a partir da observação de algo comum em ordenhadoras de vacas, a proteção natural contra a doença. Sigmund Freud (1856-1939) desenvolveu a psicanálise a par- tir de fastos comuns, como o sono, os sonhos e o desejo se- xual. Alexander Fleming (1881-1955) descobriu o primeiro an- tibiótico, a penicilina, a partir da observação de algo comum, a contaminação dos fungos de seu material de pesquisa. Doenças cardiovasculares, diabetes, depressão, taba- gismo e alcoolismo são problemas comuns e, ao mesmo tempo de extraordinária repercussão social. A obesidade, a hipertensão arterial, a hipercolesterolemia, a cardiopatia isquêmica, o câncer e o diabetes, dentre outras doenças, possuem estreita relação com a dieta. Por isso uma dieta saudável é importante na prevenção de doenças. Cerca de 90% da dieta humana é orientada do reino vege- tal. As plantas mais consumidas no mundo são a Coffea arábica (café), a Cola acuminata (bebidas tipo cola) e a Thea sinensis (chá) - mais do que os produtos agrícolas, como arroz, trigo, soja, feijão, batatas, tomates etc. O café ainda é um dos principais produtos agrícolas bra- sileiros e envolve 10% da população economicamente ativa no país, com produção anual de cerca de 25 milhões de sacos de 60 kg, o que implica um saldo para a balança comercial brasileira de cerca de US$ 2 bilhões anuais em exportações e um valor igual gerado no mercado interno. Os Estados Unidos são os maiores consumidores mun- diais de café, sendo o Brasil o maior produtor e o segundo maior consumidor. O mercado internacional de café gera, anualmente, recursos na ordem de US$8 bilhões para os países produtores (pobres) e em torno de US$ 80 bilhões nos países industrializados (ricos). Jovens substituem o café por refrigerantes do tipo cola (uma garrafa de 2 L possui teor de cafeína equivalente a três xícaras grandes de café), o que parece estar associado à epidemia de obesidade em países como os Estados Unidos. Pouco se conhece dos possíveis benefícios do consumo diário e moderado de café para a saúde humana, particu- larmente o sistema cardiovascular. No passado, suspeitava-se que o café consistia apenas de cafeína, prejudicial ao ser humano, sendo contraindi- cada a todo paciente com doença cardiovascular. Porém o café não é só cafeína. Lançamos um olhar otimista e realista sobre o tema e vislumbramos perspectivas alvissareiras nos estudos e pesquisas que estão prosseguindo na América do Norte, no momento de uma forma especial na Universidade de Harvard, que vem pesquisando também os efeitos do café nas áreas neuropsiquiátricas. Portanto, são profissionais do mais alto nível e evidente respaldado, em estudos e pesquisas bem fundamentadas cientificamente, na busca incansável de conhecer detalhadamente os elementos que constituem o café e seus efeitos benéficos na medi- cina, ou seja, qual, ou quais, e se virão de forma cconsis- tente beneficiar o sistema cardiovascular. Enquanto aguardamos, tranquilizamos e aconselhamos os apreciadores do café a continuarem saboreando de forma prazerosa nos horários tradicionais das refeições, concomitante aos deliciosos goles dos escritórios, dos bancos, das repartições públicas e, por que não dizer, em consultórios médicos, em particular no desse cardiologis- ta, que encerra essas linhas com otimismo, vislumbrando uma grande luz no fim do túnel. Café, medicina e cardiologia - parte 2 Crônicas do Coração por Fernando Lianza Dias Crônicas do Coração por Fernan ia za ias Fernando Lianza Dias é especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, médico Preceptor de Cardiologia, Chefe do Serviço de Risco Operatório do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB, Diretor Científico da Cardioclin e Coordenador do Núcleo de Prevenção das Doenças Cardiovasculares no Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal Da Paraíba (UFPB). 31

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