Jornal SBC 200 | março 2019

Voltamos a refletir sobre tão sublime e importante tema, pelo fato de vislumbrarmos que o coração somente é visto, como órgão, produtor de patologias, pensamen- to que é uma constante nas mentes de grande parte da classe médica e da população como todo, portan- to, convidamos os leitores para vê-lo de uma forma mais romântica, objetivando minimizar os medos e os pavores, com o toque filosófico do sentimento. Símbo- lo do afeto, do amor, dos sentimentos mais profundos e do caráter de uma pessoa, o coração, desde sem- pre, entrou para o imaginário de homens e mulheres como o lugar onde são guardadas as emoções. Mesmo que a ciência tenha feito algumas tentativas de distor- cer o âmago dessa temática, respondemos, é no cora- ção e ao coração que nos referimos quando falamos de sentimentos, crenças, entrega e intimidade. Nossa intenção, nessas linhas, tem a conotação de celebrar alguns achados − imagem, momentos, emotividade –, que mostram como o coração é visto ou vislumbra- do em diversos lugares e em situações tão variadas, quanto a um parque, uma rocha, uma cena de marte, ao acaso e, principalmente, o fato antológico de que um cardiologista não pode pensá-lo de forma restrita e não enxergá-lo somente pela ótica técnica/científica, ou seja, como órgão que representa a bomba da vida e que pode fraquejar e produzir patologias.  Simplesmente direcionar seu olhar, as mil formas que ele pode adquirir e nos surpreender. Durante milênios, o coração foi considerado um órgão sagra- do, centro misterioso das emoções humanas, local onde se concentram a força e a sabedoria. Enquanto os demais ór- gãos trabalham em silêncio, o coração vibra, dando acordes sublime e permanente de sua presença, e, talvez, por isso, tenha sido um dos primeiros órgãos de que o homem teve consciência. O passo seguinte foi associar o coração aos sentimentos e às emoções que alternavam seu ritmo nor- mal: amor, medo, susto, sensações marcantes, intensas e de momentos especiais. Ao simbolizar as emoções, o coração passou a fazer parte, desde os tempos remotos de expressões em todos os idiomas que o correlacionaram ao estado da alma, ao amor, à afeição e a generosidade. Para termos noção de sua força simbólica, vejamos a quantos adágios populares o coração deu origem, citando-se: ”coração partido”, “do fundo do coração”, “pessoa sem coração”, “fazer das tripas coração“, entre muitos. Encerramos essas linhas com uma reflexão, que nos sensi- biliza e referenda todo o contexto do assunto exposto, que não poderia ser outra senão a sentença lapidar de Pascal: “o coração tem razões que a própria razão desconhece“. Os influxos simbólicos do coração Crônicas do Coração por Fernando Lianza Dias Crônicas do Coração r Fer a ia za ias Fernando Lianza Dias é especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, médico Preceptor de Cardiologia, Chefe do Serviço de Risco Operatório do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB, Diretor Científico da Cardioclin e Coordenador do Núcleo de Prevenção das Doenças Cardiovasculares no Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal Da Paraíba (UFPB). 32

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