Jornal SBC 211 | fevereiro 2020

Dia a Dia do Cardiologista Mortes por câncer podem superar os óbitos por doença cardiovascular no Brasil em 2020 As doenças cardiovasculares continuam como a principal causa de mortalidade no país, mas o câncer já é superior em quase 10% das cidades brasileiras Entre os anos 2000 e 2015, houve que- da progressiva e expressiva da taxa de mortalidade por doença cardiovascular nas cinco capitais mais populosas das cinco regiões brasileiras. No mesmo período, a mortalidade por câncer se manteve estável ou em discreta eleva- ção. Caso essa tendência continue, o câncer será o líder como causa de mor- tes em 2020. Este é o resultado de um trabalho que acaba de ser publicado na Revista ABC Cardiol, da SBC. Coordenado pelo professor do De- partamento de Medicina Clínica (Car- diologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, Wolney de Andrade Martins, o estudo comparou os dados de mortalidade do Departamento de Informática do Siste- ma Único de Saúde (DATASUS), nas faixas etárias de 30 a 69 anos e >70 anos, em Manaus, Salvador, Goiâ- nia, São Paulo e Curitiba. “A escolha das capitais mais populosas partiu do pressuposto do maior grau de urbani- zação e interferência dessas na saúde de seus habitantes. De modo geral, no mundo ocidental, o cruzamento das curvas de mortalidade se dá pela queda expressiva da mortalidade por doença cardiovascular, especialmente nos países de maior desenvolvimento socioeconômico”, explica Martins. Observou-se queda consistente das mortalidades precoce e tardia por doença cardiovascular, em ambos os sexos, nas capitais estudadas, com exceção da mortalidade tardia em ho- mens em Manaus. Houve tendência de queda dos óbitos por câncer em São Paulo e Curitiba e de aumento da taxa de mortalidade por câncer em Goiânia. Em Salvador, houve queda na mortali- dade precoce por câncer em homens e mulheres e incremento na mortalidade tardia em ambos os sexos. Os resultados sugerem dois padrões de tendências que levaram ao agru- pamento das cinco capitais em dois subgrupos: no primeiro, São Paulo e Curitiba, com padrão mais próximo à realidade dos países desenvolvidos, onde há queda expressiva da mor- talidade por doença cardiovascular e manutenção ou queda discreta da mortalidade por câncer. No segundo padrão, apresentam-se Goiânia, Sal- vador e Manaus, onde também houve queda da mortalidade por doença car- diovascular, porém menos expressiva, contraposta pelo aumento discreto da mortalidade por câncer. “Além do desenvolvimento socioeco- nômico, o controle dos fatores de risco cardiovasculares e o aumento conside- rável (450%) no acesso aos serviços de Atenção Primária podem ter inter- ferido na queda. Como observado em países desenvolvidos, esforços para o diagnóstico e tratamento dos fatores de risco e comorbidades muito provavel- mente contribuíram para o declínio de mortes por acidente vascular cerebral e, secundariamente, para a queda da 13

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