O Resgate do Teste Ergométrico
Fábio Sândoli de Brito*
Resgate: tirar do esquecimento, conseguir algo à custa de
sacrifício e esforço, recuperar. Dicionário HOUAISS pág. 2437.
O Teste Ergométrico ressurgiu na forma em que é realizado hoje, na década de 70,
avaliando os pacientes de forma pluriparamétrica, e não apenas olhando o ECG de
esforço como fazia o histórico teste de Máster. Nestes quase 40 anos vimos a
grande distância que o mesmo mantinha dos assuntos relacionados às arritmias e
também dos arritmólogos. Nas diretrizes internacionais e também nacionais seja
do próprio método assim como naquelas das sociedades de arritmias, o Teste de
Esforço aparecia sem destaque e com indicações muito limitadas. Foi crescente o
interesse tanto nos meios médico e leigo como também na mídia, pelo tema de
arritmias, morte súbita e pratica desportiva que associou- se à ampla divulgação
de mortes de atletas em competições, muitas vezes com transmissões de TV ao vivo
para todo o mundo. No Brasil a morte do futebolista Serginho durante jogo do
campeonato brasileiro, gerou na revista Veja a manchete de capa “Morte ao Vivo
no Morumbi”
No final de 2006, o American College of. Cardiology, a American Heart
Association e a European Society of. Cardiology publicam nas mais importantes
revistas de Cardiologia do mundo, sob a redação de Douglas Zipes as Diretrizes
para a Abordagem de Pacientes com Arritmias Ventriculares e Prevenção da Morte
Súbita Cardíaca....
O capitulo cinco desta diretriz, trata da avaliação geral de pacientes com
arritmias ventriculares suspeitadas ou documentadas e no Capítulo 5.2, após o
Historia e Exame Físico (5.1), temos a avaliação pelos métodos não invasivos. O
Teste de Esforço aparece da seguinte forma:
Zipes et al. ACC/AHA/ESC. Practice Guidelines for Management of Patients With
Ventricular Arrhythmias and prevention of Sudden Cardiac Death. JAAC Vol. 48,
No. 5, 2006 September: 247-346
Recomendações Classe I
1- O teste de esforço é recomendado em pacientes adultos com arritmias
ventriculares que tem uma probabilidade intermediaria ou elevada de ter doença
arterial coronária, pela idade, sexo ou sintomas e passiveis de provocar
alterações isquêmicas ou arritmias ventriculares.
2- O teste de esforço, independente da idade, é útil em pacientes com
arritmia ventricular suspeitada ou conhecida como esforço-induzida, incluindo as
taquicardias ventriculares catecolaminérgicas seja para provocar as arritmias,
fazer o diagnóstico e determinar o prognóstico e determinar a resposta do
paciente à taquicardia.
Recomendações Classe IIa
- O Teste de Esforço pode ser útil em avaliar a resposta terapêutica medica
farmacológica ou ablação em pacientes tratados de arritmia ventricular
esforço-induzida.
É recente a valorização dos testes de esforço para a abordagem dos pacientes com
arritmias ventriculares e estratificação do risco para a morte súbita cardíaca.
A detecção de isquemia silenciosa em paciente com arritmia ventricular muda toda
a estratégia de investigação e tratamento. O mesmo se diga de um portador de
arritmia ventricular mesmo complexa que não apresente isquemia. Indivíduos
aparentemente normais e que apresentem arritmias ventriculares esforço
induzidas, se não associadas à isquemia, não necessitam intervenção terapêutica.
Em relação aos recursos terapêuticos disponíveis para a arritmia ventricular
esforço-induzida, com exceção dos betabloqueadores nenhum mostrou qualquer
efetividade em reduzir a morte súbita cardíaca.
Nas arritmias catecolaminérgicas incluindo as taquicardias ventriculares
monomórficas e também as polimórficas, o teste de esforço é efetivo para avaliar
pacientes sintomáticos e também a resposta aos meios terapêuticos empregados.
O teste de esforço pode ainda nos fornecer dados prognósticos para estes
pacientes informando sobre o nível de esforço e freqüência necessários para
provocar as arritmias ventriculares.
Na população de coronarianos, a indução pelo exercício de arritmias
ventriculares complexas, aumenta expressivamente a taxa de mortalidade cardíaca
e morte súbita em relação àqueles sem arritmias ou com arritmias simples como as
extra-sistoles isoladas.
*Coordenador de métodos não invasivos da Sociedade Brasileira de Arritmias
Cardíacas (Sobrac) e presidente do Conselho Deliberativo do Departamento de
Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular (Derc).
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