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Jornal SBC 113 | Dezembro 2011 17

FORA DO CONSULTÓRIO

Um marca-passo cedido pelo cardiologista José Carlos Pachon e implantado no buldog Cacau, da flha do professor Leopoldo Piegas, do Instituto Dante Pazzanese, está garantindo a sobrevida do animal. Após constatação de síncopes de repetição e bradicardia importante, comprovou-se que o cão tinha um bloqueio AV de 3º grau, com pausas de até 15 segundos, o que caracteriza a síndrome de Stokes-Adams.

O procedimento, recomendado pela veterinária Cyntia Ghorayeb, flha de Nabil Ghorayeb, traz a lume a questão do grande número de animais que enfrentam problemas cardiológicos. Por não contarem com o SUS (e só agora o seguro em benefício de cães e gatos começa a se generalizar no Brasil), frequentemente são condenados à morte por cardiopatias que teoricamente seriam facilmente resolvidas.

Depois de vivenciar o problema, Leopoldo Piegas foi convencido pela cirurgiã-veterinária Denise Schwartz a fazer um apelo em nome dos cardiologistas veterinários, para que se peça aos familiares de pacientes mortos portadores de marca-passos que doem o equipamento para reaproveitamento em cães ou outros animais. “A Anvisa impede a reutilização em humanos”, lembra Piegas, mas não há impedimento no reuso para fns veterinários.

Depois de se envolver com o tratamento de Cacau no Hospital de Veterinária da USP, o professor Piegas recordou que quase todas as especialidades humanas existem na veterinária, que conta inclusive com especialistas, cardiologistas veterinários e

Marca-passos usados podem salvar a

vida do melhor amigo do homem

oncologistas, por exemplo. Mais importante, porém, foi ver a felicidade de sua flha com a recuperação do cachorro de dois anos de idade, que agora certamente poderá viver a seu lado por muito tempo. E no convívio com os veterinários e os donos de cães, ele aprendeu como para milhões de pessoas um amigo animal pode ser tudo que as separa das tristezas da solidão e do desespero da depressão.

“Não estou propondo nenhuma novidade”, afrma Leopoldo, pois Bharat Kantharia, da Universidade do Texas, há anos vem coletando marca-passos usados nas casas funerárias americanas e, depois de os revisar, enviando-os para o Holy Family Hospital, em Mumbai, na Índia.

O American Journal of Cardiology chegou a publicar um artigo relatando o resultado do aproveitamento dos 121 marca-passos coletados nas funerárias americanas, 37 dos quais implantados em pacientes que precisavam do aparelho e não tinham recursos para adquiri-lo: 95% desses pacientes apresentaram signifcativa melhora durante o seguimento de 661 dias após o implante. Para o cardiologista, agora que, graças ao SUS, não há mais grandes flas para o implante de marca-passos em humanos, está na hora de o Brasil começar a discutir o aproveitamento desses equipamentos para salvar a vida do melhor amigo do homem. “Cacau vai indo muito bem”, diz ele, e mostra a tira de um momento crítico captado pelo Holter, e outra com o traçado atual.

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