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Jornal SBC 125 | Dezembro 2012
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Sociedade Brasileira de Cardiologia
Carta do Rio de Janeiro
III Brasil Prevent / I América Latina
Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2012
Objetivo
O documento final será publicado como artigo especial nos
Arquivos
Brasileiros de Cardiologia
e como editorial nas revistas científicas das
sociedades médicas e suas afiliadas que apoiam este documento.
O documento tem como objetivo fornecer uma visão geral das
doenças cardiovasculares e traçar ações estratégicas para reduzir a
prevalência de fatores de risco que contribuem para a alta mortalidade
e morbidade.
Levando em consideração a Declaração Política da Reunião de Alto Nível
das Nações Unidas sobre Prevenção e Controle das Doenças Não
Transmissíveis (DCNT)
1.
.
Referendando a meta global de redução de 25% na mortalidade precoce
por doenças não transmissíveis até 2025
1
, estabelecida na Assembleia
Mundial de Saúde (WHA) 65,8, em consonância com a Reunião de Alto
Nível das Nações Unidas sobre Prevenção e Controle das DCNT,
Reconhecendo que, em 2008, 36 milhões (63%) das mortes globais foram
causadas por DCNT, das quais 9 milhões ocorreram antes dos 60 anos de
idade e que, além disso, quase 80% das principais doenças crônicas (29
milhões) ocorreram em países de baixa e média renda,
Reconhecendo, finalmente, que as doenças cardiovasculares continuarão
sendo a principal causa de morte no mundo, cerca de 7,3 milhões/ano,
número que deverá superar 23,6 milhões até 2030
2
, especialmente na
América Latina, onde cerca de 40% das mortes ocorrem durante os anos
mais produtivos de vida
3
.
No Brasil, as DCNT são um problema de saúde de grande magnitude,
correspondendo a 72% das causas de morte, especialmente doenças
cardiovasculares (31,3%), câncer (16,3%), doenças respiratórias crônicas
(5,8%) e diabetes (5,2%), afetando indivíduos de todos os níveis
socioeconômicos e, mais especificamente, aqueles que pertencem a
grupos vulneráveis, como os idosos e as pessoas com baixo nível
educacional e econômico
3
.
No Brasil, 300 mil morrem anualmente devido a doenças cardiovasculares,
como infarto, acidente vascular encefálico, insuficiências cardíaca e renal
ou morte súbita, o que significa 820 mortes por dia, 30 mortes por hora ou
uma morte a cada 2 minutos.
3
Estima-se que a redução de 10% da taxa de mortalidade causada por
doença isquêmica do coração e acidente vascular encefálico geraria uma
economia estimada em US$ 25 bilhões por ano para os países de baixa e
média renda
4,5
.
É amplamente conhecido o papel das sociedades médicas e suas
associações como agentes críticos de mudança na abordagem da carga de
doenças cardiovasculares no mundo.
Deliberações:
1. Trabalhar coletivamente em defesa das metas globais* para prevenção e
controle de DNT abrangendo o uso de medicamentos e dos principais
fatores de risco (sedentarismo, hipertensão, ingestão excessiva de sódio e
de gordura saturada, tabagismo, obesidade, consumo excessivo de álcool,
hipercolesterolemia), para prevenir infarto agudo do miocárdio e acidentes
vasculares encefálicos
6
.
*Metas globais para a prevenção e o controle das DCNT
6
Redução relativa de 25% na mortalidade por DCNT
Redução relativa de 10% da prevalência de inatividade física em
adultos
Redução relativa de 25% na prevalência de hipertensão arterial
(definida como pressão arterial sistólica
140 mmHg e diastólica
90
mmHg)
Redução da ingestão média de sal da população adulta
5 g/d
(2.000 mg de sódio)
Redução relativa de 30% da prevalência de tabagismo
Redução relativa de 15% da ingestão de ácidos graxos saturados,
com o objetivo de atingir o nível recomendado inferior a 10% das
necessidades diárias de gordura
Redução relativa da prevalência de obesidade
Redução relativa de 10% do consumo excessivo de álcool
Redução relativa de 20% de hipercolesterolemia
Metade das pessoas (50%) elegíveis deverá receber
aconselhamento e terapia medicamentosa para prevenir ataques
cardíacos e acidentes vasculares encefálicos
Disponibilidade de tecnologias e medicamentos essenciais,
incluindo genéricos, para 80% da população portadora de DCNT tanto no
setor público como no privado
2. Implementar políticas públicas para prevenção e controle das DCNT na
população em geral e nos grupos específicos, no Brasil e nas Américas,
para atingir a meta global de redução de 25% na mortalidade prematura até
2025.
3 Defender coletivamente o controle das DCNT, incluindo-as em discussões
de fóruns nacionais e internacionais.
4. Trabalhar em conjunto na redução da mortalidade, morbidade e
incapacidade causadas pelas DCNT, por meio de ações conjuntas de
prevenção e promoção da saúde, associadas com diagnóstico precoce e
tratamento.
5. Fornecer o mais alto nível de educação médica continuada e
conhecimento científico para os profissionais de atenção primária,
cardiologistas, enfermeiros intensivistas e outros profissionais de saúde.
6. Agir sobre os determinantes sociais que influenciam os fatores de risco
para DNT, por meio de políticas governamentais para promover ambientes
físicos e sociais adequados para a redução da exposição ao risco,
facilitando a adoção de hábitos saudáveis por parte da população, em
ambientes escolares, de trabalho e de lazer, espaços urbanos e outros.
7. Atuar com os governos para o desenvolvimento e aplicação de um
programa de prevenção cardiovascular nos países, estabelecendo formas
de avaliação dos resultados junto à população.
8. Treinar e qualificar os profissionais de saúde para o tratamento das
emergências cardiovasculares e encorajar os leigos a obterem técnicas e
competências em ressuscitação cardiopulmonar utilizando protocolos
estabelecidos pelas sociedades científicas.
9. Desenvolver projetos colaborativos que apoiem a abordagem "curso de
vida", que enfatiza a promoção da saúde e estratégias de prevenção para
minimizar o risco de DNT, em todos os estágios da vida.
10. Mobilizar os meios de comunicação para levar informações contínuas
sobre a importância das doenças cardiovasculares, seus principais fatores
de risco e formas de prevenção, ampliando a divulgação para a população
com o intuito de evitar sua ocorrência e ressaltar a importância do
diagnóstico precoce para reduzir a mortalidade.
11. Implementar ações para aquisição de informação epidemiológica,
incluindo mortalidade e morbidade cardiovascular, execução e manutenção
de registros já existentes em alguns dos signatários, visando o
desenvolvimento de estratégias que promovam o planejamento das ações
de saúde.
12. Criar um fórum internacional de discussão permanente para monitorar
as ações voltadas para prevenção, diagnóstico e tratamento dos fatores de
risco cardiovascular na América Latina.
13. Estabelecer campanhas de prevenção cardiovascular, promovendo
esforços consistentes para obter a meta de redução de 25% da taxa de
mortalidade até 2025. As campanhas devem envolver os fatores de risco
cardiovascular: tabagismo, alimentação inadequada, ingestão excessiva de
sódio,
inatividade
física,
obesidade,
hipertensão
arterial,
hipercolesterolemia e diabetes, como especificado nas diretrizes e pela
Organização Mundial de SaúdeWorld Health Organization.
Este documento foi elaborado com a participação de Carlos Alberto
Machado, Daniel Piñeiro, Donna K. Arnett, Fausto Pinto, Gláucia Maria M.
Oliveira, Hans F. Dohmann, Jadelson P. Andrade, Luiz Alberto P. Mattos,
Sidney C. Smith Jr. e Stephan Gielen.
As seguintes entidades apoiam e recomendam todos os termos contidos
neste documento: Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade
Interamericana de Cardiologia (SIAC), American Heart Association (AHA),
Sociedade Europeia de Cardiologia (European Society of Cardiology, ESC),
Federação Mundial do Coração (World Heart Federation, WHF).
Assinado pelos presidentes das sociedades de cardiologia:
Jadelson P. Andrade
Presidente
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Daniel Piñeiro
Presidente
Sociedade Interamericana de Cardiologia
Donna K. Arnett
Presidente
American Heart Association
Fausto Pinto
Presidente eleito
European Society of Cardiology
Sidney C. Smith, Jr
Presidente
World Heart Federation
DIRETORIA
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