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Jornal SBC 118 | Maio 2012
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Editorial da revista do ACC elogia trabalho gaúcho
A dieta clássica para baixar o colesterol, sem
gordura saturada e com ênfase em frutas e verduras,
protegeu contra a dislipidemia 79% dos portadores
de HIV que iniciavam a terapia antirretroviral. A
pesquisa que levou a essa conclusão foi promovida
por Jorge Pinto Ribeiro e sua equipe, integrada por
outra cardiologista, duas nutricionistas que eram
suas orientandas e um infectologista.
O trabalho não apenas foi publicado na revista
do
American College of Cardiology
, como também
mereceu um editorial elogioso, divulgado com o
título “Nutritional Therapy to Prevent Dyslipidemia
in Patients Starting Antiretroviral Therapy for
Human Immunodeficiency Virus”.
Jorge, que é chefe da Unidade de Hemodinâmica
do Hospital de Clínicas, chefe do Serviço de
Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento e
professor da Faculdade de Medicina Federal do Rio
Grande do Sul, já é “freguês” de revistas científicas
no exterior.
Em 2006, um primeiro ensaio clínico randomizado
sobre treinamento aeróbico em pacientes com
HIV e sob tratamento retroviral foi muito bem
recebido nos Estados Unidos. A pesquisa mostrou
que os pacientes já em terapia retroviral não
registravam melhora do colesterol e triglicerídeos
mesmo após três meses de exercício aeróbico. Foi
esse resultado negativo que o levou a promover a
nova pesquisa, para encontrar um caminho para
impedir que soropositivos continuem chegando
aos consultórios de cardiologia como vítimas de
doença coronariana.
Jorge Pinto Ribeiro lembra que, até a década de
1990, a Aids era uma doença que matava em média
até 18 meses após os primeiros sintomas, e, com uma
situação devastadora do ponto de vista nutricional,
provocava um quadro de intensa perda da massa
muscular. “Com as novas terapias, entretanto, a
sobrevida aumentou fantasticamente”, diz ele, “mas
os efeitos adversos, aumento do colesterol e dos
triglicerídeos e a síndrome metabólica passaram
a levar os infectados ao cardiologista, muitos com
infarto do miocárdio”.
No estudo mais recente, a equipe do cardiologista,
que trabalha no Hospital de Clínicas, centro nacional
de referência para tratamento de Aids, selecionou
83 pacientes que iriam começar a terapia retroviral
e metade deles foi submetida a uma dieta adequada
por um ano. “O resultado foi muito positivo”,
comemora, a dislipidemia só ocorreu em 21% dos
submetidos à dieta e a grande maioria manteve os
níveis de colesterol e de triglicérides anterior ao
início do tratamento. Quanto ao grupo controle,
dos 40 soropositivos que também iniciaram o
tratamento antirretroviral, mas não tiveram o
benefício da dieta, 68% tiveram dislipidemia. É esse
resultado que aponta um caminho com grande
benefício para os contaminados pelo HIV que está
merecendo os aplausos da revista do ACC.
Pesquisadores gaúchos provaramcomo a dieta adequada impede a dislipidemia emportadores doHIV que iniciam
terapia antirretroviral.
Foto: Arquivo Pessoal/Jorge Pinto Riveiro
Jorge Pinto Ribeiro e sua equipe de pesquisa provam
que dieta básica reduz os riscos de dislipidemia em
pacientes com HIV.
DIRETORIA
Dubai quer atrair tanto congressos como
médicos brasileiros para o país
O ex-presidente da SBC, Jorge Ilha Guimarães, acaba de
voltar de Dubai, no Oriente Médio que, através da CMM
Eventos, está se oferecendo para sediar congressos
científicos brasileiros, e antecipa que vai precisar de
médicos do Brasil que se disponham a trabalhar no
país. Com o objetivo de apresentar sua infraestrutura e
mostrar as possibilidades que oferece, Dubai convidou
várias lideranças do setor para uma estada de sete dias.
Já estão funcionando em Dubai a Harvard University,
o Johns Hopkins Hospital, a Sorbonne e o MIT
de Massachusetts, explica Jorge Ilha. “Os norte-
americanos perceberam as possibilidades do país e
chegaram primeiro”. Das reuniões com o sheik ministro
da Saúde e sua equipe foi possível perceber, entretanto,
que os investimentos de Dubai na área da Saúde estão
apenas começando, e que há grandes projetos. O país
vai montar um grande centro de tratamento hospitalar,
realizar cursos especializados, importar tecnologias
não poluentes, e há uma marcante carência em alguns
campos da Cardiologia, como a falta de cirurgião
cardíaco pediátrico.
Jorge Ilha diz que todos os casos de cirurgia cardíaca
infantil são operados fora do país, com o governo do
Dubai bancando as despesas. O objetivo da Saúde
Pública do país é tornar Dubai um centro de excelência
em tratamento médico para o Oriente Médio, onde
vivem quatro bilhões de pessoas mal assistidas do
ponto de vista médico, segundo as autoridades locais.
O interesse do Dubai no Brasil não é recente, tanto
que no congresso europeu do ano passado já foram
feitos vários contatos. Os representantes de Dubai
tinham adiantado que o país vai precisar promover
a imigração de médicos e há uma simpatia muito
grande pelos profissionais brasileiros.
O Congresso Mundial de Cardiologia foi também
em Dubai, e a proposta de Jorge Ilha é tornar a SBC
um interlocutor privilegiado, promover intercâmbio
científico e avançar ainda mais na internacionalização
da entidade. A SBC tem condições de atender a
demanda de Dubai em várias áreas, seja com o envio
de cardiologistas interessados numa experiência
internacional, para enriquecer seus currículos, seja
atraindo especialistas do Oriente Médio para os
congressos nacionais, seja, ainda, promovendo cursos
de capacitação ministrados emDubai por especialistas
brasileiros.
Para Jorge Ilha, “é o momento de aproveitar a iniciativa
de aproximação para estreitar as relações entre os
dois países e preencher espaços que, se não forem
tomados pela Cardiologia brasileira, serão ocupados
pelos norte-americanos e pelos europeus”.
Delegação do Brasil participa de encontro e do Congresso Mundial de Cardiologia.
Foto:
Divulgação do evento
Com o intuito de melhorar as práticas médicas em
cardiologia, Dubai vai precisar de médicos brasileiros
trabalhando em seu país.