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Jornal SBC 122 | Setembro 2012
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DIRETORIA
SBC entrega ao Ministério da Saúde Programa
para redução da mortalidade de crianças com
cardiopatia congênita
O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia
(SBC), Jadelson Andrade, entregou no dia 22 de agosto
ao ministro Alexandre Padilha, da Saúde, um ambicioso
programa elaborado por um comitê de especialistas para
salvar cerca de 21 mil crianças que nascem por ano no
Brasil com problemas congênitos no coração e acabam
morrendo por não terem a chance de ser submetidas a
cirurgia cardíaca e intervenção percutânea.
O Programa Nacional para o Tratamento Integral de
Crianças com Diagnóstico de Cardiopatia Congênita foi
desenvolvido em conjunto pelas Sociedade Brasileira
de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Cirurgia
Cardiovascular
(SBCCV),
Sociedade
Brasileira
de
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI)
e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Os presidentes
das entidades estiveram na audiência com o ministro,
“evidenciando que a preocupação com a necessidade
de atendimento a essas crianças é um consenso entre
os médicos brasileiros”, afirmou o presidente da SBHCI,
Marcelo Queiroga.
OpresidentedaSBC, JadelsonAndrade, relataqueosdados
epidemiológicos que retratam a realidade das crianças
com diagnóstico de cardiopatia congênita no Brasil
evidenciam que das 21 mil crianças com esse diagnóstico
e com indicação de cirurgia cardíaca ou intervenção
percutânea, 62% não têm acesso a esses tratamentos.
Analisados os dados da Região Norte, o déficit atinge
91%, e nas Regiões Nordeste e Cento-Oeste do país é de
74%. O reflexo é o elevado índice de mortalidade nessa
população de crianças considerando quemais de 70% têm
potencial de cura se a chance do tratamento for oferecida.
Ao ser analisada a mortalidade de crianças por cardiopatia
congênita em São Paulo, entre os anos 2000 e 2010, fica
evidente ser essa a maior causa de óbito na referência por
mortalidade infantil no Estado nesse período.
A observação desse trágico perfil epidemiológico em
relação às crianças com cardiopatia congênita no Brasil
levou a SBC a formar um comitê de especialistas de alto
nível integrantes dessas sociedades para elaboração
do Programa Nacional para o Tratamento Integral de
Crianças com Diagnóstico de Cardiopatia Congênita. O
objetivo foi criar um instrumento que possa ser utilizado
junto ao Ministério da Saúde e demais segmentos sociais
e governamentais para enfrentamento e modificação de
forma definitiva desse panorama relacionado a crianças
com cardiopatia congênita no país.
O presidente da SBCCV, Walter Gomes, considera
que a solução definitiva desse grave problema e que
integra uma parte essencial do programa proposto
pela SBC será a criação, pelo Ministério da Saúde, da
Secretaria Especial para o Tratamento da Criança com
Cardiopatia Congênita (SETRACC), que deverá contribuir
decisivamente para a eliminação dos atuais entraves
que dificultam o acesso das crianças comdiagnóstico de
cardiopatia congênita à cirurgia, na sua grande maioria
com possibilidade de cura definitiva.
É grande a expectativa de todos os que se dedicaram na
elaboração desse programa que a sua imediata aplicação
possa ser oprimeiro emais importante passona direçãoda
única chance que terão essas crianças com diagnóstico de
cardiopatia congênita de ter direto à vida com os recursos
atualmente disponíveis, e que esses jamais, por nenhuma
circunstância, lhes possa ser negado.
Os números
No detalhado documento entregue ao ministro, os
presidentes das sociedades de especialidades médicas
incluíram quadros (ver Tabela 1 e Tabela 2) que indicam
o total de intervenções realizadas e o déficit, para o ano
de 2010.
O trabalho indica também que, embora o déficit de
atendimento das cardiopatias congênitas seja de 60% no
Brasil como um todo, na Região Norte chega a 91%; no
Nordeste é de 76%; e mesmo no Paraná e Distrito Federal,
onde o atendimento émelhor, odéficit é de 14%.“Dos 4.500
cateterismos cardíacos com fim de diagnóstico necessários
numano, o Brasil só realizou 727”, diz Jadelson. A deficiência
tem maior gravidade quando se lembra que 50% dessas
crianças devemser operadas no primeiro ano de vida.
Aponta Jadelson Andrade que o problema tomou essa
dimensão pelo fato de que os hospitais, ao receberem os
recursos do SUS, priorizam as cirurgias cardíacas de menor
complexidade, a exemplo de cirurgias de revascularização
do miocárdio, troca de válvulas cardíacas e implantes de
marca-passoartificial, consumindodessa formaos recursos
disponibilizados e acumulando cirurgias cardíacas de
maior complexidade e de maior custo, como as cirurgias
de cardiopatias congênitas.
A proposta da criação da SETRACC pelo Ministério da
Saúde tem por objetivo regulamentar essa situação como
alternativa definitiva para que essas crianças tenham
a oportunidade de ser submetidas ao tratamento que
necessitam, finaliza.
Tabela 1 -
Intervenções percutâneas realizadas no Brasil, ano de 2010 e déficit por região
Taxa de
Natalidade/1000
Habitantes
Nascidos
Vivos
(2009)
Cardiopatias
Congênitas
(9/1000)
Necessidade
de
intervenção
SUS
Intervenção
SUS
2010
Déficit por
Região
(%)
Brasil
16,4
3.140,289
28263
4412
1652
62,55
Norte
23,2
356.344
3207
501
9
98,20
Nordeste
18,3
980.721
8826
1378
415
69,88
Sudeste
14,6
1.181.368
10632
1660
752
54,69
Sul
13,8
382.522
3443
537
378
29,66
C-Oeste
17,2
289.002
2151
336
98
70,81
Tabela 2 -
Déficit calculado considerando intervenções percutâneas e cirúrgicas realizadas no ano de 2010
Cirurgias - SUS 2010
Intervenções
percutâneas 2010
Total
Déficit por Região
(%)
Brasil
6.493
1652
8.145
58,16
Norte
179
9
188
91,49
Nordeste
1.604
415
2.019
66,79
Sudeste
2.911
752
3.663
49,98
Sul
1.349
378
1.727
27,17
C-Oeste
450
98
548
63,01
A proposta prevê a criação da Secretaria Especial para o Tratamento da Criança com
Cardiopatia Congênita (SETRACC)
(Da esq.) Luiz Mattos (Diretor Científico da SBC),
Marcelo Queiroga (Presidente da SBHCI), Alexandre
Padilha (Ministro da Saúde), Jadelson Andrade
(Presidente da SBC), Walter Gomes (Presidente da
SBCCV) e Fábio Jatene (Diretor Científico da SBCCV)
Foto: Erasmo Salomão