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Jornal SBC 128 | Março 2013
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ESQUINA CIENTÍFICA
Luís Beck da Silva |Co-editor
luisbeckdasilva@gmail.com
Insuficiência Cardíaca (1)
Sobrevida dos pacientes portadores de CDI para
prevenção primária de morte súbita: prática
clínica versus estudos randomizados
Até o presente momento a indicação do CDI em
pacientes com IC baseava-se em resultados de
estudos randomizados. Os autores deste artigo
compararam a sobrevida dos pacientes envolvidos
nos dois principais
trials
relacionados ao uso
do CDI (MADIT-II e SCD-HeFT ) com pacientes
semelhantes do Registro Norte-Americano de
CDI (representantes da “vida real”). Os resultados
obtidos foram similares, fortalecendo esta
indicação para prevenção primária de morte súbita
em pacientes com IC.
Fonte primária:
The Journal of the American Medical
Association
(JAMA)
Referência:
Al-Khatib SM, Hellkamp A, Bardy GH,
et al.
Survival of patients receiving a primary
prevention implantable cardioverter-defibrillator
in clinical practice vs clinical trials.
JAMA. 2013 Jan
2;309(1):55-62. doi: 10.1001/jama.2012.157182.
Flávio de Souza Brito
Membro Colaborador do DEIC Jovem
Insuficiência Cardíaca (3)
Transplante cardíaco e amiloidose
Importante artigo publicado no JHLT aborda um assunto
ainda pouco compreendido: a amiloidose cardíaca.
A amiloidose é uma miocardiopatia restritiva, com
prognóstico reservado, com poucas opções terapêuticas,
em que o transplante cardíaco pode trazer benefícios em
relação à terapêutica clínica isolada. Entretanto, o artigo nos
alertaquantoànecessidadedemais estudos sobremétodos
de triagem, para guiar a seleção de pacientes com essa
miocardiopatia e a melhor forma de abordagem antes e
após o transplante cardíaco. O autor sugere que a estratégia
de realizar quimioterapia supressiva depois do transplante
cardíaco e antes do transplante autólogo de células-tronco
hematopoiéticas pode salvar vidas; entretanto, ressalta a
necessidade de dados de longo prazo.
Fonteprimária:
Journal ofHeart andLungTransplantation
Referência:
Varr BC et al, “Heart transplantation and
cardiac amyloidosis: Approach to screening and novel
management strategies” J Heart Lung Transplant
2012;31:325–31. doi:10.1016/j.healun.2011.09.010.
Juliana Rolim Fernandes
CardiologistadaUnidadedeTransplantee InsuficiênciaCardíaca
Hospital de Messejana – Fortaleza-Ceará
Insuficiência Cardíaca (2)
Pico de consumo de oxigênio ao exercício
combinado com os níveis circulantes de BNP:
otimizando a escolha do melhor momento para
o transplante cardíaco
O pico de consumo do oxigênio ao exercício VO
2
é o parâmetro mais utilizado atualmente para
selecionar candidatos ao transplante cardíaco. À luz
da terapia moderna para IC avançada, o prognóstico
dos pacientes com VO
2
entre 10 e 14 mL/min por Kg
permanece incerto. Dentre esses pacientes, aqueles
com níveis de BNP > 506 pg/mL apresentaram piores
desfechos clínicos. Portanto, os níveis de BNP podem
auxiliar na seleção de pacientes, com VO
2
limítrofe,
para o transplante cardíaco.
Fonte primária:
Circulation
:
Heart Failure
Referência:
Kato TS, Collado E, Khawaja T, et al.
Value of Peak Exercise Oxygen Consumption
Combined With B-type Natriuretic Peptide Levels
for Optimal Timing of Cardiac Transplantation.
Circ Heart Fail. 2013 Jan 1;6(1):6-14. doi: 10.1161/
CIRCHEARTFAILURE.112.968123.
Flávio de Souza Brito
Membro Colaborador do DEIC Jovem
A Medicina do Futuro
ESTILO DE VIDA
“Que tipo de medicina os
atuais médicos, professores
e cientistas deixarão para
as próximas gerações?” E,
completando: “Será melhor
oupior?”. Aperguntadoaluno
ecoou pela sala de pé direito
alto da antiga faculdade.
Respondi:
“Será
uma
medicina melhor em muitos
aspectos, mas em alguns,
acredito, poderá ser pior”.
Expliquei que a multiplicação
doconhecimentodos últimos
cinquenta anos foi maior que toda a ciência desenvolvida
desde os primórdios da civilização; que a ciência aliada
à tecnologia tem infinitos horizontes. Lembrei-me,
contudo, do declínio do humanismo da profissão; que,
cada vez mais, os pacientes têm medo dos médicos e a
recíproca é verdadeira; que passamos a compreender
melhor as doenças mas não necessariamente os doentes.
Antes que concluísse o meu raciocínio, surgiram
várias manifestações dos alunos, como flechas de
ideias lançadas ao futuro. É impressionante o fascínio
do jovem pelo que é novo. Foram destacadas as
potencialidades das células-tronco, a nanomedicina,
os biossensores, as próteses neurais, os aplicativos
médicos, a cirurgia robótica, a farmacogenética, e
assim por diante.
Fui para casa refletindo sobre tudo aquilo. No
Medline”
encontrei 104596 citações para “
future of
medicine
”, sendo a mais antiga delas o discurso do
paraninfo aos formandos de 1868 da Faculdade de
Medicina de Edimburgo, Reino Unido, destacando os
avanços propiciados pelas, então contemporâneas,
invenções do laringoscópio, do estetoscópio,
do oftalmoscópio e do microscópio
1
. Projetei a
perplexidade dos médicos do futuro diante da
leitura de nossos atuais relatos.
Divaguei imaginado se no futuro haveria
consultórios “
drive-thru
”,
onde os pacientes seriam
identificados pela retina, enquanto neurossensores
captariam queixas e sintomas do pensamento. O
simples contato da mão com uma tela possibilitaria
a medida automática dos dados vitais e a análise
transdérmica da completa bioquímica do sangue.
Em segundos, o “avatar
do médico faria as
considerações sobre estilo de vida, enquanto robôs
injetariam microships “customizados” sob a pele,
contendo os fármacos e vacinas necessários a cada
indivíduo .
Pode
parecer
antiquado,
mas
todo
o
desenvolvimento científico e tecnológico não deve
prescindir do olhar do médico, do raciocínio clínico,
do tato, do sentimento e do bem querer, virtudes
dos bons profissionais de agora tanto quanto dos de
outrora. Adormeci cantarolando os versos de Milton
Nascimento e Fernando Brant “se o poeta é o que
faz o sonho ser real, vou sonhar coisas boas que o
homem faz e esperar pelos frutos no quintal”.
1. Simpson JY. Medicine: Its Young Practitioners and Future Advances.
Br Med J.
1868; 2(397): 138–139.
Colega cardiologista, ajude-nos a imaginar como
será a cardiologia do futuro enviando mensagens
para
jornalsbc@cardiol.br
Reflexões e incertezas sobre a profissão que deixaremos para as próximas gerações