Jornal SBC 138 | janeiro 2014 - page 28

Jornal SBC 138 · Janeiro · 2014
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Maismédicos emais elei
ç
ões
Nada do que está ocorrendo
com a classe médica
brasileira é fruto do acaso. As
medidas governamentais se
inscrevem em um contexto
propriamente eleitoral. O
“Mais Médicos” não pode
ser, por exemplo, separado
do “Minha Casa, Minha Vida”
ou do “Minha Casa Melhor”.
Todos esses programas estão
focados nos beneficiários
do Bolsa-Família e na classe
média ascendente.
Segundo a Pesquisa Nacional de Amostragem
de Domicílios, 2012, do IBGE, para maiores de
15 anos, a população brasileira, por renda, é
constituída, nos seus estratos mais inferiores, da
seguinte maneira:
1. Até 1 salário mínimo: 27,7%.
2. Mais de 1 a 2 salários mínimos: 25,7%.
3. Mais de 2 a 3 salários mínimos: 8,7%.
4. Mais de 3 a 5 salários mínimos: 7,8%.
5. Sem rendimentos: 22%.
Se somarmos a população brasileira até 5 salários
mínimos, teremos o impressionante número de
69,9% de cidadãos. Se nos contentarmos com
até 3 salários mínimos, o número permanece
impressionante, com 62,1% de cidadãos. A
esses números, deveríamos somar ainda 22%
de pessoas sem rendimentos. Eis, portanto, a
população brasileira alcançada pelos programas
governamentais do Bolsa-Família e de
favorecimento à classe média ascendente.
Graças às novas condições econômicas do país,
com pleno emprego, houve um substancial
aumento de renda dessa classe de trabalhadores,
alguns se tornando microempreendedores. O
governo, atento, instituiu o programa “Minha
Casa, Minha Vida”, voltado para a aquisição
da casa própria. Trata-se de um desejo, por
assim dizer, universal, a base sobre a qual
se ergue a família e propicia aos que a têm
melhores condições de vida e, mesmo, de
progressão social.
O “Minha Casa Melhor” configurou,
imediatamente, o passo seguinte. A nova classe
média ascendente – e mesmo certos integrantes
doBolsa-Família – se volta para o consumoda dita
linha branca, que são, na verdade, produtos de
primeira necessidade, como fogões, geladeiras
e máquinas de lavar. O impacto social de tais
produtos nas casas, agora próprias, é enorme.
A celeuma suscitada pelo programa
governamental do “Mais Médicos”, com
importação maciça de médicos cubanos,
obedece ao mesmo esquema eleitoral. A classe
médica tem totalmente razão em suas críticas a
esse programa, aí incluindo a falta de revalidação
do diploma. Contudo, o governo não recuou e
não recuará pela simples razão de que o seu
apelo eleitoral é inegável. O governo certamente
agiu apoiado em pesquisas que constataram
Opinião
Denis Rosenfield
Professor Titular do
Departamento de
Filosofia da Universidade
Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS)
A classe médica tem
totalmente razão em
suas críticas a esse
programa, aí incluindo
a falta de revalidação
do diploma
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