Cirurgia cardiovascular - Nova rota
Cortes na Saúde e na Ciência
Recentemente a imprensa divulgou dois fatos altamente
preocupantes na área da saúde: primeiro, que o governo
anterior deixou de repassar ao SUS 3,5 bilhões de reais
desde 2012, segundo o ministro da Saúde. Esse dinheiro
seria destinado a UPAs e hospitais. Não dá para acredi-
tar. Um governo que se dizia defensor dos pobres deixou
de assisti-los justamente na área crítica da saúde. Isso
explica, pelo menos em parte, o sofrimento relatado sis-
tematicamente entre as pessoas que dependem de recur-
sos públicos para se tratar. São consultas não marcadas,
exames não feitos, demora nos atendimentos ou cirurgias
que não se realizaram porque faltam leitos, material hos-
pitalar ou profissionais adequados. O fenômeno não é re-
gional: o caos na saúde se alastra por todo o país.
A outra péssima notícia foi o corte de 20% nas bolsas de
iniciação científica em todo o país. A iniciação científica é
a primeira porta de entrada que permite que estudantes
com talento para pesquisa sejam identificados. Várias
autoridades na área de educação médica e formação
científica se manifestaram com perplexidade. Não existe
na história dos países nem um exemplo de progresso
sem apoio à formação científica e capacitação tecnoló-
gica. Isto é a base da pujança tecnológica, científica e
econômica de países como Alemanha, Japão, Inglaterra
e Estados Unidos.
O que realmente causa indignação é que, enquanto esses
dois fatos ocorreram, o governo passado promoveu a cor-
rupção, gastou bilhões em projetos de poder, afundou a
economia e mergulhou o país no descrédito internacional.
Os médicos que são uma elite intelectual e têm como de-
ver defender a saúde e a ciência não podem desconhecer
tais fatos. Precisamos opinar, protestar, agir, orientar para
que a sociedade não aceite conviver com tais desmandos.
A cirurgia cardiovascular iniciou-se com grandes toraco-
tomias e esternotomias, para que o coração e os vasos
intratorácicos pudessem ser examinados e eventualmente
ter seus ferimentos, doenças ou anomalias corrigidos.
Em 1896, Ludwig Rehn suturou um ferimento de arma
branca do ventrículo direito de um paciente de 22 anos,
configurando-se como a primeira cirurgia cardíaca com
sucesso.
1,2
Em 1902, Dr. Harry Sherman, comentando a pioneira ope-
ração no
Boston Medical and Surgical Journal,
predecessor
do
New England Journal of Medicine,
assim se expressou:
O caminho para chegar ao coração é de 2 a 3 centímetros,
no entanto a cirurgia levou 2.400 anos para percorrê-lo!
Agora estamos andando em nova rota, com a possibilida-
de das cirurgias minimamente invasivas, como o Implante
Valvar Aórtico Transcateter (TAVI).
Contudo as correções dos defeitos congênitos ou adqui-
ridos, do coração, aorta e seus ramos jamais deixarão de
fazer parte da missão do Cirurgião Cardiovascular.
1 - Rev Bras Cir Cardiovasc 2012; 27(1):137-47
2 - J Card Surg. 1993 May; 8(3):398-403
Cirurgia Cardíaca
por Domingo Braile
Domingo Braile é Prof. Emérito da Faculdade Estadual de Medicina
de Rio Preto e Sênior da Faculdade de Ciências Médicas da Uni-
camp. Pró-Reitor de Pós-Graduação da Famerp, editor do Brazilian
Journal of Cardiovascular Surgery
Protásio Lemos da Luz é professor sênior de
Cardiologia do InCor da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo - FMUSP
Relação Médico Paciente
por Protásio Lemos da Luz
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