Jornal SBC 174 | janeiro 2017 - page 25

Domingo Braile é Prof. Emérito da Faculdade Estadual
de Medicina de Rio Preto e Sênior da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp. Pró-Reitor de Pós-Gra-
duação da Famerp, editor do Brazilian Journal of Cardio-
vascular Surgery
Cirurgia Cardíaca
por Domingo Braile
A saga da cirurgia cardiovascular continua sendo escrita
Faleceu no dia 18 de novembro
de 2016, aos 96 anos, Denton
Cooley, proeminente pionei-
ro da Cirurgia Cardiovascular.
Nascido no ano de 1920, em
Houston, era um texano típico!
À pergunta de um advogado,
se era o melhor cirurgião car-
diovascular do mundo, Cooley
respondeu: “Sim”. Questionado
em sua falta de modéstia, res-
pondeu: “Talvez”, mas lembre-
-se, estou sob “Juramento”.
Sabemos que o Prof. Cooley,
como Sócrates, não morreu:
continua vivo em seus discípu-
los. A época dos pioneiros hon-
ra a especialidade, superando
conceitos e dificuldades com
conhecimento e audácia, com-
pensada em pequenas vitórias.
Para Guimarães Rosa: “Ído-
los não morrem, tornam-se
encantados”, evocando pen-
samentos que abrindo os es-
caninhos da memória... geram
saudades. “Toda saudade é
uma espécie de velhice”.
A geração seguinte à dos pio-
neiros envelheceu, confiante
na nova geração, que dispon-
do de facilidades nunca an-
tes imaginadas saberá levar
avante a especialidade repre-
sentante na medicina do do-
mínio do espaço sideral pelo
homem!
Ciência, governo, indústria
– trilogia do progresso
Apesar das limitações conhecidas, nos últimos anos houve con-
siderável progresso da ciência no Brasil: aumentou o número de
doutores, de publicações internacionais e a participação do Brasil
na literatura mundial. No entanto, é preciso que o avanço científico
tenha reflexo na sociedade traduzindo-se em melhorias na qua-
lidade, maior sobrevida, no uso racional dos instrumentos diag-
nósticos e de tratamentos. Muitas dessas coisas dependem de
dois outros participantes – além das universidades: o governo e
a indústria. Como indústria refiro-me a todo o sistema produtivo e
empresarial.
Ao governo cabe subsidiar estudos com alcance populacional,
que possam indicar as melhores condutas na área de saúde, por
exemplo. Também é o governo quem estabelece políticas gerais,
em todos os setores; na agricultura, no meio ambiente, na saúde.
Portanto, se a ciência deve embasar políticas públicas – e deve
mesmo –, é preciso que as relações academia/governo sejam es-
treitadas, competências técnicas sejam respeitadas, instituições
científicas sejam ouvidas. O exemplo vivo mais recente de como
não se deve fazer é o programa Mais Médicos – no qual as enti-
dades médicas foram ignoradas em favor de interesses políticos
de um governo.
O outro elo é a atividade privada. Essa executa praticamente to-
das as tarefas, incorporando novos conhecimentos. O complexo
universidade indústria é hoje uma realidade na Europa e nos Es-
tados Unidos. A universidade não fabrica nada; só gera conheci-
mento. Já a indústria necessita do conhecimento para gerar pro-
dutos. A ideia de que ela própria tenha fortes departamentos de
pesquisa também é usual em outros países, mas incomum aqui.
Isso também tem outro lado positivo: representar empregos para
os acadêmicos recém-formados. Assim, é necessário fortalecer a
união universidade/indústria.
Essas duas avenidas de cooperação mútua é que levarão a ciên-
cia brasileira a contribuir mais para o desenvolvimento do país.
Referência: Cruz CHB. Investimento empresarial em P&D no Bra-
sil. 26 novembro 2016.
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ral,investimento-empresarial-em-ped-no-brasil,10000090668
Relação Médico Paciente
por Protásio Lemos da Luz
Protásio Lemos da Luz é professor sênior de
Cardiologia do InCor da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo - FMUSP
Foto: Blog Denton Cooley
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