Jornal SBC 178 | Maio 2017 - page 3

Todos querem
mudanças, mas
quem aceita mudar?
Em todos os cenários, da política à economia, mas tam-
bém em nossa profissão médica, todos clamam por mu-
danças. Mas quem está realmente disposto a mudar? Será
que apenas os outros e não nós mesmos precisamos nos
transformar?
Por que ficar preso às mesmas críticas ao passado em vez
de aproveitar as oportunidades do presente para construir
o futuro? John Kennedy afirmava que “a mudança é a lei
da vida; aqueles que apenas olham para o passado ou
para o presente irão com certeza perder o futuro”. Mas
mudanças, mesmo que sejam para melhor, quase nunca
ocorrem sem inconvenientes. Sobre isso, Oscar Wilde nos
ensinou que “o descontentamento é o primeiro passo da
evolução de um homem ou de uma nação”, revelando o
poder criativo da inquietação. Nesse contexto, um impor-
tante aspecto da mudança é a atitude de se permitir, ou
mesmo o estímulo e a coragem para aceitar e compartilhar
as mutações.
Segundo Érico Veríssimo, “quando os ventos de mudança
sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras cons-
troem moinhos de vento”. Suas palavras nos remetem
àqueles que preferem resistir e se opor à inexorável evo-
lução, enquanto outros aproveitam os bons ventos para
voar. A medicina está repleta de exemplos de resistência
às mudanças. Semmelweis, com a antissepsia; Freud, com
a psicanálise; assim como Forrsmann, com o cateterismo
cardíaco, são exemplos, entre tantos outros, de mentes
inovadoras, que em suas épocas encontraram mais obstá-
culos que estímulos, mas cuja genialidade criativa o tempo
soube reconhecer.
“Se queremos progredir, não devemos repetir a história,
mas fazer uma história nova”, dizia Mahatma Gandhi. Con-
tudo, nem sempre precisamos criar um caminho novo, mas
sim encontrar “um jeito novo de caminhar”, como nos en-
sinou o poeta Thiago de Melo. Muitas vezes a transforma-
ção não necessariamente precisa estar no gesto, mas na
mente; não no fato, mas na visão. E foi o próprio Gandhi
quem concluiu que ”temos de nos tornar na mudança que
queremos ver”.
Vivemos um tempo de exacerbado individualismo, da bus-
ca desenfreada de privilégios pessoais em detrimento do
coletivo. Precisamos que o “eu” dê lugar ao “nós”. É preci-
so compreender que a trilha compartilhada é mais enrique-
cedora, mais solidária e tantas vezes mais profícua. Afinal,
sozinho pode-se chegar até mais rápido, mas em grupo se
chega mais longe.
O mundo, o país, nossa profissão, nossa especialidade e
também a nossa SBC vivem um tempo de novos paradig-
mas. Nós, médicos, somos, por natureza, críticos e habi-
tuados a buscar evidências que comprovem a necessida-
de de transformações. Pois vem da própria ciência a lição
de Charles Darwin de que “não sobrevive a espécie mais
forte, mas a que se adapta à mudança”.
Palavra do Presidente
MARCUS VINÍCIUS BOLÍVAR MALACHIAS
Foto: Pedro Vilela
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