Jornal SBC 191 | Junho 2018

Nunca será redundante recordar sobre tão sublime e im- portante tema, pelo fato de vislumbrarmos que o coração é visto somente como órgão produtor de patologias, pen- samento este que é uma constante nas mentes de grande parte da classe médica, como da população em geral. As- sim, convidamos os leitores para vê-lo de uma forma mais romântica, objetivando minimizar os medos e os pavores, com o toque filosófico do sentimento. Símbolo do afeto, do amor, dos sentimentos mais profun- dos e do caráter de uma pessoa, o coração, desde sempre, entrou para o imaginário de homens e mulheres como lugar onde são guardadas as emoções. Mesmo que a ciência tenha feito algumas tentativas de distorcer o âmago desta temática, respondemos que é no coração e ao coração que nos referimos quando falamos de sentimentos, crenças, entrega e intimidade. Nossa intenção nessas linhas tem a conotação de cele- brar alguns achados - imagem, momentos, emotividade – que mostram como o coração é visto ou vislumbrado em diversos lugares e em situações tão variadas, quanto um parque, uma rocha, uma cena de Marte, ao acaso e principalmente ao fato antológico de que um cardiologis- ta não pode pensá-lo de forma restrita e não enxergá-lo somente pela ótica científica, ou seja, como órgão que representa a bomba da vida, e que pode fraquejar e produzir patologias. Simplesmente, direcionar seu olhar, as mil for- mas que ele pode adquirir e nos surpreender. Durante milênios, o coração foi conside- rado um órgão sagrado, centro miste- rioso das emoções humanas, e no qual se concentravam a força e a sabedoria. Enquanto os demais órgãos trabalham em silêncio, o coração vibra, dando acordes sublime e permanente de sua presença e, talvez, por isto, tenha sido um dos primeiros órgãos do qual o homem teve consciência. O passo seguinte foi associar o coração aos sentimentos e às emoções, que alternavam seu ritmo normal: amor, medo, susto, sensações marcan- tes, intensas de momentos especiais. Ao simbolizar as emoções, o coração passou a fazer parte, desde os tempos remotos, de expressões em todos os idio- mas que o correlacionaram ao estado da alma, ao amor, à afeição e a generosidade. Para termos noção de sua força simbólica, a quantos adá- gios populares o coração deu origem? “Coração partido”, “do fundo do coração”, “pessoa sem coração”, “fazer das tripas coração”, entre outros. Encerramos essas linhas com uma reflexão, que nos sen- sibiliza e referenda todo o contexto do assunto exposto: a sentença lapidar de Pascal, segundo a qual “o coração tem razões que a própria razão desconhece“. Simbologia do coração - nunca é demais evocar Crônicas do Coração por Fernando Lianza Dias Fernando Lianza Dias é Especialista em Cardiologia pela SBC/AMB; Médico Preceptor de Cardiologia ; Chefe do Serviço de Risco Operatório do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Diretor Científico da Cardioclin; e Coordenador do Núcleo de Prevenção das Doenças Cardiovasculares no Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB. 29

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