Jornal SBC 204 | julho 2019

Crônicas do Coração por Fernando Lianza Dias oração por Fernando Lianza Dias Fernando Lianza Dias é especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, médico Preceptor de Cardiologia, Chefe do Serviço de Risco Operatório do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB, Diretor Científico da Cardioclin e Coordenador do Núcleo de Prevenção das Doenças Cardiovasculares no Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal Da Paraíba (UFPB). A clínica continua reinando como eterna soberana Pesquisando hoje à tarde, como de costume, nos de- paramos com um artigo do Dr. James Kallil, da Univer- sidade da Califórnia, no qual ele fazia uma avaliação crítica atual do médico e o interesse por fazer novos exames, uma nova subespecialidade: “exameologia”? Esse fato nos motivou a escrever estas linhas. Felizmente, ainda existe uma minoria de cardiologis- tas com formação clínica, na acepção do termo e da palavra. A maioria das nossas faculdades não está preparada para ministrar um ensino adequado. O cor- po docente está desmotivado, por vários motivos: sa- lários, estrutura errada nas universidades e hospitais, com falhas imperdoáveis no que tange a equipamen- tos, laboratórios, falta de atualização nos setores pe- dagógicos e bibliotecas defasadas, falta de estímulo pela informática, por conseguinte, baixa produtividade científica, enfim, sem ainda, se adequarem às moder- nidades do terceiro milênio. Se na graduação temos todos esses problemas, imagi- ne na pós-graduação, que, segundo a orientação dos últimos 20 anos, é a principal via para se formar o cor- po docente e os investigadores das nossas universida- des. Antes da década de 1980, existiam universidades que mantinham fluxo regular de teses de doutoramen- to e livre-docência. Com o advento da pós-graduação, essas escolas passaram a ter corpo docente suficiente para se ajustar aos novos tempos. O mais desalenta- dor é saber que algumas instituições, principalmente agora, com a proliferação de escolas médicas, devem estar minguando recursos para buscar estruturação, para não fenecerem. Tantos as antigas, como as mais novas, continuarão assim por muito tempo. A educação e a formação téc- nica, em nosso meio, não são propriedades, ao contrá- rio de países que, ao mudarem sua estrutura, cresce- ram cerca de 300% em 20 anos. Assim, o médico, após investir 8 a 10 anos em sua formação, se vê vilipendiado em seus princípios pro- fissionais. Os honorários da consulta são baixos e os dos exames são mais elevados. Ao invés de se fazer um bom exame clínico, muitos optam por indicar, ou realizar, vários exames, que, até outro dia, eram subsi- diários, mas que se tornaram principais a quase todos os pacientes. O uso desses exames tem sido tão abusivo que quase mensalmente recebemos solicitações para responder qual o número de consultas para se indicar eletrocar- diograma, teste ergométrico, ecocardiograma, raio X 36

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