Jornal SBC 207 | outubro 2019

Protásio Lemos da Luz é Professor Sênior de Cardiologia do InCor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Inteligência Artificial e Medicina A inteligência artificial (IA) foi um dos destaques do recente Congresso da European Society of Cardiology , em Paris. A IA já vem sendo usada em várias áreas, como aviação, viagens espaciais, armas de guerra dirigidas e robots . Há muita controvérsia sobre se IA é um avanço bom para a hu- manidade, ou se poderia apresentar até uma ameaça ao gênero humano. Por exemplo: se a IA criar um ser que seja mais capaz que o homem, não poderia aniquilá-lo? Até agora, o ho- mem criou tecnologia e instrumentos que ele controla, e os usa para exe- cutar tarefas específicas. Porém, a IA isso não poderá fugir do controle? Na medicina, a IA vem assumindo importância crescente, e com im- pressionante rapidez. Até agora foca em dados objetivos, como imagens, e tem demonstrado ser superior ao homem, mesmo especialmente trei- nado, em reconhecer o normal e o anormal. Portanto, é mais precisa, por exemplo, em diagnosticar tu- mores malignos, áreas cerebrais is- quêmicas ou quaisquer anomalias morfológicas. Também pode ser ex- traordinariamente eficaz na análise de números, seja pressão arterial ou valores laboratoriais. Portanto, parece ser um instrumen- to importante e que possibilitaria melhorar a medicina, com base em diagnósticos mais precoces e pre- ciosos. Alguns problemas parecem óbvios. Primeiro, a IA está ainda no domínio da investigação e restrita às entidades acadêmicas. A expan- são para prática pode demorar e requer consideráveis adaptações. Segundo, a qualidade do produto da IA depende sempre da qualidade do produto adquirido na fonte, como no exame clínico/físico, laboratório bioquímico e imagens. É o “ garbish in, garbish out ”. Terceiro, o aspec- to emocional do doente é subjetivo, mas muito importante. Como lidar com a alma humana será também possível com IA? E a criatividade? Criatividade é a capacidade de criar coisas novas, inesperadas. A IA pode avaliar isso? De qualquer modo IA é um fenôme- no novo em medicina e, aparente- mente, não é modismo. Veio para ficar. Convém nos prepararmos, re- fletindo sobre ela. Relação Médico Paciente por Protásio Lemos da Luz 51

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