Jornal da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Publi Editorial



Cardiopatia no consultório: pense DPOC

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um dos principais problemas de saúde pública e estima-se a prevalência de 15,8% em pessoas com mais 40 anos de idade.1 A DPOC é subdiagnosticada e subtratada,2 figurando mundialmente entre as top 3 causas de morte.3

A DPOC e as doenças cardiovasculares (DCV) estão frequentemente associadas, compartilhando fatores de risco comuns, como tabagismo, envelhecimento, processos fisiopatológicos, sinais e sintomas clínicos.4 Pacientes com DCV devem ser investigados para DPOC e vice-versa. O fluxograma para investigação desses pacientes é demonstrado na figura 1.


Fluxograma para investigação de pacientes com sintomas respiratórios. Adaptado de Roversi et. al. 5

A investigação de associação entre as doenças justifica-se pela alta prevalência da DPOC com DCV, que varia de acordo com a cardiopatia e amostra analisada:
• Insuficiência cardíaca: 39,2%. 6
• Fibrilação atrial: 31,4%. 7
• Doença cardíaca isquêmica: 33,6%. 8

O diagnóstico da DPOC é clínico baseado nos sintomas respiratórios crônicos de tosse e/ou expectoração e/ou dispneia. A confirmação diagnóstica é feita pela espirometria com evidência de distúrbio ventilatório obstrutivo, caracterizado pela redução da relação entre o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada (VEF1/CVF <0,7 pós broncodilatador).3 A gravidade da doença é dada pela intensidade da obstrução das vias aéreas medida pelo VEF1 na espirometria: 3


A base do tratamento farmacológico da DPOC são os broncodilatadores (BDs); a escolha é baseada na intensidade dos sintomas, principalmente dispneia e tolerância aos esforços.3 Para pacientes com sintomas, como andar mais devagar pela dispneia (mMRC >2 ou CAT >10), prefere-se os BDs de longa ação, compostos por antimuscarínicos (LAMA, p.e, umeclidínio) e beta-2 agonistas (LABA, p.e., vilanterol). 3 Sabe-se que a associação dos dois broncodilatadores (LAMA+LABA) é melhor para aliviar a dispneia e função pulmonar em comparação a cada um dos dois isoladamente, além de reduzir o uso de beta-2 agonistas de resgate.9

Uma das causas de dispneia nos pacientes com DPOC é a hiperinsuflação pulmonar,10 que pode provocar restrição mecânica ao enchimento do ventrículo esquerdo (VE) levando a redução do volume sistólico do VE. 11 Entretanto, a associação de broncodilatadores de longa ação reduziu a hiperinsuflação melhorando significativamente a função pulmonar e os volumes diastólicos finais do VD e VE em comparação ao placebo.12

O corticoide inalatório (ICS) integra o tratamento da DPOC sendo capaz de reduzir as exacerbações, importante causa de descompensação da doença e morte.3,14 Deve estar sempre associado aos BDs.3 De acordo com o relatório GOLD, o uso do ICS associado a um (ICS+LABA) ou dois broncodilatadores (terapia tripla inalatória: LAMA+LABA+ICS) está indicado para tratamento inicial dos pacientes com DPOC com risco de exacerbação (mais que duas exacerbações no último ano ou uma hospitalização) ou histórico de asma ou contagem de eosinófilos no sangue maior que 300 céls/µL.3

A terapia tripla inalatória (LAMA+LABA+ICS) realizada com umeclidínio, vilanterol e furoato de fluticasona em dose única diária, comercializado como Trelegy15, demonstrou melhor função pulmonar, qualidade de vida e redução de 44% nas exacerbações moderadas/graves em comparação a formoterol/budesonida, dados do estudo FULFIL.13 No estudo Impact, com mais de 10 mil pacientes com DPOC, a terapia tripla de umeclidínio + vilanterol + furoato de fluticasona alcançou os objetivos de melhorar a função pulmonar, reduzir exacerbações em comparação com ICS/LABA e LAMA/LABA. Trata-se do primeiro estudo em DPOC a demonstrar real redução do risco de mortalidade com terapia tripla inalatória em dose única diária.14

Referências:

1. Menezes AM, Perez-Padilla R, Jardim JR, Muiño A, Lopez MV, Valdivia G, Montes de Oca M, Talamo C, Hallal PC, Victora CG; PLATINO Team. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the PLATINO study): a prevalence study. Lancet. 2005 26; 366 (9500): 1875-81.
2. Nascimento OA, Camelier A, Rosa FW, Menezes AM, Pérez-Padilla R, Jardim JR; Latin American Project for the Investigation of Obstructive Lung Disease (PLATINO) Group. Chronic obstructive pulmonary disease is underdiagnosed and undertreated in Sao Paulo (Brazil): results of the PLATINO study. Braz J Med Biol Res. 2007; 40 (7): 887-95.
3. GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE. Global strategy for Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease 2021 REPORT. Disponível em: https://goldcopd.org/wp-content/uploads/2020/11/GOLD-REPORT-2021-v1.1-25Nov20_WMV.pdf. Acesso em: 25 de outubro de 2021.
4. Aisanov Z, Khaltaev N. Management of cardiovascular comorbidities in chronic obstructive pulmonary disease patients. J Thorac Dis. 2020; 12 (5): 2791-2802.
5. Roversi S, Fabbri LM, Sin DD, Hawkins NM, Agustí A. Chronic Obstructive Pulmonary Disease and Cardiac Diseases. An Urgent Need for Integrated Care. Am J Respir Crit Care Med. 2016; 194 (11): 1319-1336.
6. Mascarenhas J, Lourenço P, Lopes R, Azevedo A, Bettencourt P. Chronic obstructive pulmonary disease in heart failure. Prevalence, therapeutic and prognostic implications. Am. Heart J. 2008; 155: 521–525.
7. 2014 AHA/ACC/HRS guideline for the management of patients with atrial fibrillation: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. J Am Coll Cardiol 2014; 64: 2246–2280. 8. Soriano JB, Rigo F, Guerrero D, Yañez A, Forteza JF, Frontera G, Togores B, Agustí A. High prevalence of undiagnosed airflow limitation in patients with cardiovascular disease. Chest 2010; 137: 333–340.
9. Bjermer L, Boucot IH, Maltais F, Kerwin EM, Naya IP, Tombs L, Jones PW, Compton C, Lipson DA, Vogelmeier CF. Dual Bronchodilator Therapy as First-Line Treatment in Maintenance-Naïve Patients with Symptomatic COPD: A Pre-Specified Analysis of the EMAX Trial. Int J Chron Obstruct Pulmon Dis. 2021 28; 16: 1939-1956.
10. O'Donnell DE, Milne KM, James MD, de Torres JP, Neder JA. Dyspnea in COPD: New Mechanistic Insights and Management Implications. Adv Ther. 2020; 37 (1): 41-60.
11. Cheyne WS, Harper MI, Gelinas JC, Sasso JP, Eves ND. Mechanical cardiopulmonary interactions during exercise in health and disease. J Appl Physiol (1985). 2020; 128 (5): 1271-1279
12. Rabe KF, Hurst JR, Suissa S. Cardiovascular disease and COPD: dangerous liaisons? Eur Respir Rev 2018; 27: 180057.
13. Lipson DA, Barnacle H, Birk R, Brealey N, Locantore N, Lomas DA, Ludwig-Sengpiel A, Mohindra R, Tabberer M, Zhu CQ, Pascoe SJ. FULFIL Trial: Once-Daily Triple Therapy for Patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med. 2017; 196 (4): 438-446.
14. Lipson DA, Crim C, Criner GJ, Day NC, Dransfield MT, Halpin DMG, Han MK, Jones CE, Kilbride S, Lange P, Lomas DA, Lettis S, Manchester P, Martin N, Midwinter D, Morris A, Pascoe SJ, Singh D, Wise RA, Martinez FJ. Reduction in All-Cause Mortality with Fluticasone Furoate/Umeclidinium/Vilanterol in Patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med. 2020; 201 (12): 1508-1516.
15. TRELEGY (furoato de fluticasona, umeclidínio, vilanterol). Bula do produto.



Voltar




EXPEDIENTE
O Jornal SBC é o veículo digital de informação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, uma publicação quinzenal.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIAPresidente: Marcelo Queiroga; Diretor de Comunicação: Harry Corrêa Filho; Diretor-Executivo: Luiz Felipe Costamilan
Edição:Dehlicom - Soluções em Comunicação Empresarial| Jornalista Responsável: Deborah Rezende (MTB 46691) Redação:Deborah Rezende, Marcela Marques, Fabiane de Sá e Equipe de Publicação da Gerência de Tecnologia da Informação e Comunicação da SBC Editoração: Stephan Strojnowski