Jornal SBC 145| Agosto 2014 - page 25

Jornal SBC 145 · Agosto · 2014
25
Consultanãopresencial
A secretária do consultório
passa a ligação, ou mesmo é
o seu celular que toca. Você
atende e do outro lado da
linha alguém manifesta uma
necessidade clínica e solicita
uma solução. Você percebe que
o imediatismo domina aquele
momento. Será que você já
tem uma posição bem refletida
a respeito da conveniência
de prosseguir com o atendimento? O colega
lembra-se dos artigos do Código de Ética Médica
É vedado ao médico
–, a solicitação deve ser
negada sem maiores discussões, em nome da
prudência. Ou é daqueles que ponderam caso a
caso sobre se responder seria uma imprudência
ou, então, seria uma negligência não ajudar?
O
interlocutor
pode estar “dando notícias” sobre
a evolução pós-consulta recente e o relatado está
dentro das possibilidades esperadas e, assim, seria
nadamais justo o desenvolvimento de umdiálogo
e de eventuais ajustes como complementação
não presencial, plenamente compreensível. O
interlocutor
pode ser um desconhecido – um
parente de um paciente, por exemplo –, ou
mesmo alguém que há muito tempo não é visto
e, nesse caso, é justificável que o colega decline
de dar qualquer orientação específica, por se
sentir isento da obrigação de dar respostas. O
interlocutor
pode ser um paciente conhecido –
um bom cliente – que verbaliza uma situação
relativamente simples, até fácil de condução
não presencial, quem sabe tão somente um aval
para a prática de uma “automedicação” que já
compõe a fala do paciente. Existe o hábito de
atender às indagações, afinal, “sei quem é”, e
por isso, sente-se confortável até mesmo para
acrescentar recomendações.
Mas é certo? É errado? É uma concessão? A
experiência mostra: dela fica-se refém numa
eventual adversidade: edema de glote, síndrome
de Stevens-Johnson e aplasia medular!
A Bioética respeita o deontológico, que regula
de fora para dentro, e valoriza o ontológico,
que aconselha de dentro para fora. Contribui
para dar a medida da flexibilidade perante um
contato telefônico e se fundamenta por filtros:
o do
Benefício
; é possível assumir utilidade e
eficácia da recomendação, via fone, apenas
com as informações assim disponíveis? O da
Segurança
; o útil e eficaz conceito que passou
é seguro em relação ao conjunto nosológico,
e não provoca malefícios a comorbidades e a
órgãos normais? O da
Autonomia
do médico:
falo ou não falo? A responsabilidade profissional
não tem meio termo e a Bioética, nos limites
do bom senso, sustenta a união da liberdade
e responsabilidade. E lembre-se do dever
fundamental de anotar na ficha clínica o teor e
justificativa da consulta não presencial.
Bioética de Consultório
Max Grinberg
1...,15,16,17,18,19,20,21,22,23,24 26,27,28,29,30,31,32
Powered by FlippingBook