Protásio Lemos da Luz é professor sênior de Cardiologia do InCor
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP
Relação Médico Paciente
por Protásio Lemos da Luz
Há ocasiões na vida de um país em que todos devem partici-
par da política. É o que acontece, por exemplo, numa guerra.
Hoje vivemos no Brasil uma guerra entre a decência e a inde-
cência, entre a ignorância e o saber, entre a integridade e a
desonestidade. Também, como na guerra, haverá um vence-
dor, e as coisas não serão como antes.
A classe médica tem como tradição ocupar-se da saúde e do
combate às doenças. Cuidamos do bem-estar das pessoas,
de valores inalienáveis, como saúde e vida. Por isso a classe
médica é respeitada. E como isso é muito complexo, nosso
tempo é sempre exíguo. Porém, também somos cidadãos,
com direitos e obrigações.
Numa crise política, administrativa e econômica como a atual,
os médicos não podem se omitir. Estão em jogo a educação,
o sistema político, o emprego, o uso do dinheiro público, a
escolha de prioridades do país. Para onde vai o Brasil? Que
valores éticos o Brasil prioriza? Vamos permitir que maus po-
líticos continuem roubando e mentindo, construindo projetos
pessoais em vez de pensar no povo? Essas questões afetam
a todos, individualmente.
Diante disso, os médicos devem se posicionar. Somos
uma das classes sociais mais instruídas, e certamente
seremos ouvidos pelo poder político. Portanto, não fique-
mos só julgando e lamentando a distância. Vamos defen-
der governos competentes e íntegros. Vamos defender
a justiça e exigir que a coisa pública seja tratada com
respeito, com isenção, sem privilégios a quem quer que
seja. As redes sociais estão ao alcance de todos, e são
veículos muito eficientes. Vamos usá-las para conscien-
tizar o povo e lembrar os políticos de suas obrigações
Este posicionamento é um legado que devemos a
nossos descendentes. Não vamos compactuar, sendo
silenciosos e omissos, com os desmandos que hoje
vemos no país.
Omédico como cidadão
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