A mudança começa
em cada um de nós
Helene tinha 37 anos, um marido que a amava
e um filho, Melvil, de 1 ano e 5 meses. Uma
rajada de balas disparadas durante o massacre
fundamentalista islâmico na famosa casa
de espetáculos Bataclan, em Paris, tirou-lhe
subitamente a vida em 13 de novembro de 2015.
Seu marido, o jornalista Antoine Leiris, após
uma reclusão de dias, divulgou um manifesto
aos terroristas nas redes sociais intitulado “Não
terão o meu ódio”. Seu texto foi acolhido como
um hino de repúdio à violência e à cólera dos
extremistas, de resgate do humanismo, de
amor ao filho órfão e em favor da vida. Tornou-
se viral em algumas horas e em pouco tempo
transformou-se em livro, já traduzido em 17
línguas, moderno símbolo da busca da paz.
Ao assumirmos a Diretora da Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC), demos
início a uma
Due Diligence
– auditoria plena
dos aspectos jurídico, contábil, trabalhista,
organizacional, patrimonial e processual da
instituição, realizada por equipe de auditores
externos altamente especializados. Em
curto espaço de tempo, pudemos detectar
fragilidades, corrigir processos, modernizar
o modelo administrativo, reduzir o quadro de
funcionários, reduzir custos, estabelecer umreal
planejamento estratégico, renegociar contratos
desfavoráveis e traçar metas para uma gestão
mais eficiente e profícua da entidade, porém
sempre dentro das normas regimentais.
O rigor ético e o acolhimento pleno aos ditames
estatutários foi também seguido no recente
processo eleitoral da SBC, onde as decisões
livres e soberanas da Comissão Eleitoral
e de Ética Profissional (Celep), eleita pela
Assembleia Geral de Delegados Associados
(Agad), foram regiamente obedecidas.
Embora muito distante das consequências
fatais dos atos terroristas ocorridos em Paris,
no âmbito da SBC, temos sentido os efeitos
da intolerância e até da violência de alguns
ao cumprimento das regras estatutárias,
ações essas incompreensíveis em uma
entidade de membros e valores tão nobres.
“Precisamos de uma nova ética, de reais
valores, do cumprimento de normas, de ideais
e objetivos vinculadores e unificadores, de uma
responsabilidade especial em busca da paz”,
conclui Hans Kung - orador da Assembleia da
Unesco e do Fórum Econômico Mundial, em
sua obra
Projeto de Ética Mundial
.
Em nossa SBC e na Medicina, hoje e mais que
nunca, impõe-se a necessidade de agregar
ideias e ideais para a conquista de novos
horizontes associativos e profissionais. Um
entendimento de que não existem direitos
sem deveres e de que o individual não deva
se opor ao coletivo. E inspirados no brado
pacifista de Antoine Leiris, dizemos não à
ira desoladora, abraçando o compromisso
com o trabalho e os muitos desafios da SBC.
Afinal, a probidade e a transformação que
almejamos vislumbrar devem ter início em
cada um de nós.
Palavra do Presidente
MARCUS VINÍCIUS BOLÍVAR MALACHIAS
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