Jornal SBC 164 | Março 2016 - page 3

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Todos dizem que a medicina mudou, e também os médicos. Mas os
pacientes também mudaram. Em passado não distante, os poucos
médicos existentes eram tidos como heróis que se desdobravam
para salvar os doentes mesmo com parcos recursos.
Pouco se discutia o valor do trabalho médico, que poderia ser uma
quantia em espécie, um frango, alguns ovos, ou mesmo a eterna
gratidão de quem nada podia pagar.
Hojeosmédicosestãoemtodaparte,masprincipalmentenoscatálogos
dos planos de saúde. Há magníficos recursos para o diagnóstico e
tratamento. Mas involuímos nas relações com os pacientes.
Com raras exceções, a escolha do médico é impessoal,
frequentemente o que atenda no ambulatório ou pelo convênio, o
mais próximo ou que tenha um estacionamento por perto. Pacientes
sequer sabem os nomes dos médicos e pouca importância dão aos
seus conselhos. Não há gratidão pela dedicação do médico, uma vez
que cabe ao oneroso plano de saúde ou mesmo ao SUS remunerar
o profissional, independentemente se o atendimento foi bom ou ruim.
De cada três receitas, uma sequer é aviada. Menos da metade das
receitas com três ou mais medicamentos é seguida. Mais de 80%
dos pacientes em tratamento crônico estão fora de controle.
É preciso resgatar a ancestral aliança entre médicos e pacientes
no enfrentamento dos elementos externos a essa relação, que
transformaram a medicina em uma engrenagem comercial,
insensível, impessoal e tantas vezes política. Que médicos e
pacientes possam juntos reverenciar a vida e reconquistar a união na
busca por condições dignas de saúde.
A medicina mudou,
os pacientes também
Palavra do Presidente
MARCUS VINÍCIUS BOLÍVAR MALACHIAS
Foto: Wikipedia
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