O segredo dos bons médicos e como se tornar um deles
“Os melhores médicos do mundo são: o Dr. Dieta,
o Dr. Tranquilidade e o Dr. Alegria.”
(Jonathan Swift)
Qual a receita para se tornar um bom médico? Os profissionais
de maior clientela são também os mais respeitados
por seus pares?
Durante a formação médica, não faltam complexos conteúdos
técnicos de diversas disciplinas, treinamentos de
diferentes competências, mas não existem lições objetivas
de como ser um bom médico e ter sucesso na profissão.
Há caminhos óbvios, como alcançar boas notas na
graduação, cursar residências médicas renomadas, obter
o título de especialista, trabalhar em serviços de referência,
fazer cursos, congressos e adquirir certificações,
assim como cursar mestrados, doutorados, pós-doutorados,
livre-docência etc. Mas será que os profissionais que
conseguem trilhar tais caminhos são mesmo os mais reconhecidos
por seus colegas, admirados por seus clientes
e de maior destaque profissional?
As referências de literatura sobre o tema no Pubmed são
escassas e antigas. No Google, há igualmente pouca informação.
Mas embora raros, há alguns relatos interessantes.
Em 2002, o BMJ abriu o debate “O que é ser um
bom médico e como se tornar um?”. Rizo CA et al., da
Universidade Health Network, Canadá, entre os melhores
textos da série, destacaram qualidades como respeito e
apoio aos pacientes e familiares; envolvimento desses
nas decisões; promoção da saúde, além do tratamento
da doença; uso racional e respeitoso dos recursos da tecnologia
e da comunicação; cordialidade; capacidade de
ouvir; uso da evidência como uma ferramenta, não como
um determinante da prática; humildade; cooperação com
outros profissionais de saúde; proatividade em favor e em
defesa dos pacientes.
Jha AK, clínico e professor de Harvard, em seu blog “Uma
onça de evidência” (blogs.sph.harvard.edu/ashish-jha)
realizou, em 2014, uma enquete junto ao público leigo
na qual solicitava que se resumisse em uma só palavra
o que diferencia um bom médico. O resultado, por ordem
de preferência do público, foi: empatia, capacidade
de ouvir, amabilidade, humildade, competência, tenacidade,
curiosidade, solidariedade, inteligência, paixão.
Curiosamente, entre as qualidades destacadas - tanto
no texto médico quanto na enquete entre leigos
- não estão listados a qualidade da formação, o nú-
mero de títulos, a quantidade de artigos publicados,
posições hierárquicas alcançadas ou mesmo a capacidade
técnica, embora saibamos que, na prática,
tais quesitos possam estar subjacentes às demais
virtudes destacadas.
A fórmula do bom médico não parece ser simplesmente
uma prova curricular ou uma receita de qualidades.
A boa qualificação pode ser conseguida à custa de
anos de estudos, mas não garante a eficácia e o sucesso.
A popularidade, por outro lado, pode resultar
do carisma pessoal e até de estratégias de marketing,
mas pode não se traduzir em qualidade profissional.
Todo médico, assim como qualquer pessoa, possui um
conjunto de qualidades e defeitos. A combinação de ingredientes
como conhecimento, experiência, empatia,
capacidade de decisão, humanismo e talento parece
formar a amálgama a ser perseguida, mas a fórmula
final é desconhecida. Resumindo esse mistério, Carl
Jung concluiu: “Não é o diploma médico, mas a qualidade
humana, o decisivo”.