Jornal SBC 179 | Junho 2017 - page 3

Leitor
Críticas, elogios, sugestões para o
Jornal SBC
podem ser enviados para:
Lições de jazz
para médicos
Jazz é mais que um estilo musical, é a essência da liber-
dade representada pela improvisação. O primeiro disco de
jazz,
Livery Stable Blues
, da Original Dixieland Jazz Band,
foi lançado em 1917 e, por isso, neste 2017, comemoram-
-se os 100 anos dessa forma de fazer música que tem muito
a ensinar a outras áreas do conhecimento, como a medi-
cina. Foi o jazz que melhor sintetizou a arte do improviso,
como resumiu o trompetista Miles Davis: “não se preocu-
pe em tocar um monte de notas, encontre apenas as notas
belas”. Na medicina, é fundamental conhecermos a teoria,
incorporarmos as diretrizes e seguirmos fluxogramas de
diagnósticos e tratamentos. Mas o verdadeiro dom da ciên-
cia médica está na arte da improvisação, na aplicação do
conhecimento à imprevisibilidade da apresentação clínica,
na capacidade de decidir a melhor conduta em cada caso,
como a escolha das boas notas no jazz.
Surgido a partir do
blues
,
ragtime
e
spirituals
, em New Or-
leans, no início do século XX, o jazz é hoje universal, fruto
da incorporação de diversos estilos, culturas e influências
musicais. A formação de grupos, muitas vezes heterogê-
neos, é outra lição que o jazz ensina à medicina. Assim
como o próprio Miles Davis que, em
Kind of Blue
, reuniu
bambas como Bill Evans, John Coltrane, Julian ‘Cannonball’
Adderley, Paul Chambers e Jimmy Cobb, bandas de jazz
são exemplos de personalidades diferentes que formam
equipes coesas, como no tão atual conceito de Heart Team,
onde o coletivo possibilita o alcance do melhor resultado,
sem ocultar os talentos individuais.
Músicos de jazz, muitas vezes se comunicam simplesmente
pelo olhar. São sinais que determinam movimentos comple-
xos como mudanças de andamento ou da dinâmica da músi-
ca, passagens a outra parte do tema ou mesmo a deixa para
o improviso. Pois é a percepção do olhar, um dos maiores
segredos dos médicos brilhantes. Compreender o que está
além das palavras, oculto nos gestos ou na expressão facial
é considerado o estado da arte em nossa profissão.
Ritmo, harmonia e melodia, elementos fundamentais da
música, são também regras da natureza encontradas no
corpo humano. E, desta vez, é a arte que imita a vida. O
coração marca o compasso, mas precisa estar em harmo-
nia com os outros instrumentos da orquestra – pulmão, rins,
cérebro, artérias e veias –, para manter a cadência e, como
um maestro, conduzir a melodia da vida.
São muitas as interfaces entre o jazz e a medicina. Mas
a principal lição que o jazz nos ensina é que o bom im-
proviso resulta de diferentes qualidades a serem desen-
volvidas: criatividade, talento, integração, experiência e
conhecimento.
Gostaria de agradecer ao colega
Otávio Berwanger por expandir
meus conhecimentos musicais e
cumprimentá-lo pela excelente
coluna (Sons do Coração) neste
jornal!
Guilherme Sant´Anna Antunes
de Azevedo - Blumenau/SC
Palavra do Presidente
MARCUS VINÍCIUS BOLÍVAR MALACHIAS
Foto: Pedro Vilela
“O jazz não é um o quê, o jazz é um como”
Louis Armstrong
Como sempre, adoro seus textos no
Jornal SBC
(Palavra do Presidente). O
de abril (É preciso mais que juras) não
deixa a desejar. Procuro sempre seguir
o caminho do estudo, qualificação e ti-
tulação. O TEC, em especial, consegui
com muita dificuldade. Mas com persis-
tência e perseverança, finalmente obti-
ve o sonhado título de especialista em
Cardiologia em 2015. Agora prestarei
prova para o Título do DIC, em Eco-
cardiografia, e futuramente em Doppler
Vascular. Seu texto nos faz refletir so-
bre um melhor direcionamento e condu-
ção de nossa prática médica.
Rodrigo Gomes - MG
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