Jornal SBC 191 | Junho 2018

Histórias da Cardiologia por Reinaldo Hadlich Reinaldo Hadlich é Professor do Instituto de Pós Graduação Médica do Rio de Janeiro, Presidente do Centro de Estudos do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro e Vice Presidente do Departamento de Clínica Cardiológica da Socerj. Beta bloqueadores - parte 1 Manasses Fonteles relata o histórico da milagrosa molécula Os beta-receptores completam 70 anos de sua descoberta na Cardiologia. O nosso colega Manassés Fonteles, um estudio- so das drogas que bloqueiam estes receptores (beta-bloquea- dores) escreveu um histórico da milagrosa molécula do pro- pranolol para o Jornal SBC. Pela valiosa contribuição iremos dividir o artigo em duas edições. Abaixo a primeira parte. Em maio deste ano completam-se 70 anos da submissão do clássico trabalho de R.P. Ahlquist, sobre a dualidade dos receptores adrenérgicos, no American Journal of Phy- siology . Esta descoberta permitiu um grande salto na fisio- farmacologia de inúmeras novas substâncias de grande impacto para moderna Cardiologia, tanto do ponto de vista experimental quanto clínico. Comecei a me interessar pelos receptores beta ainda no quarto ano de medicina, quando estagiei no laboratório de farmacologia da UFRJ, na Praia Vermelha, sob o coman- do de Lauro Sollero e Roberto Soares de Moura; no meu sexto ano de medicina durante o meu internato. Dois anos depois apliquei para trabalhar com o professor Ahlquist, no meu programa doutoral, tendo sido aceito em 1970. Em fe- vereiro de 1971, desde a minha primeira entrevista, fiquei fascinado pelo seu humanismo e como um cientista de qualidade mantém o laboratório com um núcleo tão agrega- dor, para onde afluíam inúmeros pesquisadores dos níveis de Earl Sutherland e James Black, ambos prêmios Nobel. Aliás, todos trabalhando em torno dos mesmos conceitos que levaram a descoberta dos novos bloqueadores beta-a- drenérgicos e do segundo mediador. James Black foi o descobridor do propranolol que foi anteci- pado pelo pronetalol. Esta última substância foi afastada por causar câncer em camundongos, sendo logo substituída pelo propranolol, que veio a se tornar o primeiro beta bloqueador eficaz no uso clínico de diversas patologias cardíacas. Ade- mais, serviu de modelo estabelecendo o caminho para a bios- síntese de novos compostos como atenolol, pindolol, labetolol, carvedilol, bisoprolol, nebivolol e sotalol. Muitas dessas subs- tâncias tem sido usadas no tratamento da angina pectoris, ar- ritmias, hipertensão, insuficiência cardíaca, enxaquecas, de- pressão, tremor essencialis e, recentemente, até mesmo no controle clínico do câncer, cujo os mecanismos de sinalização moleculares envolvem a participação dos receptores beta-a- drenérgicos. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi os seus primeiros estudos desenvolvidos com uma subs- tância nova chamada sotalol, cujo os gráficos estavam grava- dos em fitas magnéticas no seu polígrafo de 12 canais, onde ele gastava longas horas avaliando as inúmeras respostas hemodinâmicas, aparentemente diferentes dessa substancia, que atualmente tem se destacado também como inibidor do canal de potássio; daí por que sotalol tem sido muito usado pra substituir antiarrítmicos como a amiodarona, evitando as- sim seus graves sintomas secundários. Manasses Fonteles 25

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