Jornal SBC 203 | junho 2019

Protásio Lemos da Luz é Professor Sênior de Cardiologia do InCor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Cardiologia geriátrica – Demandas A expectativa de vida média no Bra- sil vem aumentando. Hoje é de 72,5 anos para homens e 79,4 para mu- lheres, segundo dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Paralelamen- te aumenta o número de pessoas com mais de 60 anos; eram 14,3%, em 2015, e deve chegar a 15%, em 2020. O envelhecimento progressi- vo tem enorme impacto na prática médica. De um lado, há a síndrome da fragilidade, que acomete muitas pessoas e influência na sobrevida. Somem-se a isso as comorbidades. O idoso raramente tem uma doen- ça só. O comum é a associação, em graus variados, de doença car- diovascular, pulmonar, renal, meta- bólica, reumatológica, ortopédica, urológica, oncológica ou neuro/psi- quiátrica. Acrescentem-se também as interações medicamentosas; é frequente que idosos tomem de seis a dez medicações simultâneas. Não apenas a interação medicamentosa em si preocupa, como também o fato de que várias funções orgânicas, como a renal, podem estar altera- das e, portanto, requerem ajustes de medicações. São inúmeros os exem- plos de efeitos iatrogênicos de subs- tâncias que atacam uma doença, por exemplo, câncer, mas prejudicam outros órgãos como coração, o siste- ma imunológico e o fígado. Diante desse cenário sucintamen- te mencionado, é evidente que a função do cardiologista fica mais complicada. No caso dos idosos já há praticamente uma subespeciali- dade, a cardiogeriatria. Obviamente conhecimentos mais amplos de fi- siopatologia são necessários, tanto em diagnósticos como em fisiopa- tologia e tratamentos. De certa ma- neira é um retorno à clínica médica, quando o médico tinha de saber de tudo um pouco. O que nos socorre é a existência de profissionais es- pecializados em cada área; mas é preciso sempre ver o paciente como um todo, e não “fatiá-lo”. Relação Médico Paciente por Protásio Lemos da Luz 26