Jornal SBC 134 | Setembro 2013
        
        
          
            18
          
        
        
          “Todos os caminhos levam à
        
        
          morte.
        
        
          Perca-se!”
        
        
          Jorge Luis Borges
        
        
          A tênue linha que separa a
        
        
          vida e a morte tem intrigado
        
        
          médicos e cientistas há
        
        
          séculos, mas novos estudos
        
        
          começam
        
        
          a
        
        
          devendar
        
        
          o
        
        
          enigma.
        
        
          Médicos
        
        
          e
        
        
          profissionais
        
        
          de
        
        
          saúde
        
        
          frequentemente deparam
        
        
          com relatos de diferentes
        
        
          pessoas que, reanimadas
        
        
          de paradas cardiorrespiratórias (PCR), descrevem
        
        
          com detalhes situações e sensações que guardam
        
        
          estranhas semelhanças entre si. O termo Experiência
        
        
          de Quase-Morte (EQM) agrupa um conjunto de
        
        
          sensações relatadas como a visão de um túnel de
        
        
          final iluminado, flutuação acima do corpo físico, um
        
        
          segundo corpo, visão de 360º, sensação de que o
        
        
          tempo passa em uma outra velocidade, ampliação
        
        
          dos sentidos, entre outros testemunhos comuns.
        
        
          O mais antigo registro de uma EQM está na obra
        
        
          “
        
        
          República
        
        
          (Livro X), de Platão. Mas foi
        
        
          Vida depois da
        
        
          Vida
        
        
          , nome da edição em português da obra
        
        
          Near-
        
        
          death experiences
        
        
          , do psiquiatra Raymond Moody que
        
        
          despertou o interesse popular pelo tema, em1975.Tais
        
        
          relatos têm sido documentados em todas as culturas
        
        
          do mundo. O primeiro estudo clínico sobre EQM em
        
        
          pacientes pós-PCR, publicado na revista
        
        
          Lancet
        
        
          , em
        
        
          2001, pelo cardiologista holandês Pim van Lommel
        
        
          e seus colaboradores, revelou que de 344 indivíduos
        
        
          reanimados, 62 (18%) tiveram EQM, lembrando-se
        
        
          com detalhes das situações que passaram durante
        
        
          as manobras de ressuscitação. R. Moody relata o
        
        
          intrigante caso de uma mulher de 70 anos, cega
        
        
          desde os 18, que descreveu com detalhes vívidos o
        
        
          que aconteceu enquanto os médicos a reanimavam
        
        
          de uma PCR. Ela descreveu os instrumentos que
        
        
          foram utilizados e até mesmo as suas cores. O mais
        
        
          surpreendente é que muitos dos instrumentos sequer
        
        
          foram concebidos na época em que ela ainda podia
        
        
          ver. Além disso, relatou acertadamente que o médico
        
        
          portava jaleco azul quando começou a ressuscitá-la.
        
        
          Um experimento recentemente publicado conseguiu
        
        
          registrar ao eletroencefalograma de ratos, um
        
        
          aumento sincronizado transitório das oscilações
        
        
          gama que ocorrem nos primeiros 30 segundos após
        
        
          a PCR e precedendo o traçado isoelétrico da morte
        
        
          encefálica. A atividade neurofisiológica encontrada
        
        
          no estado de quase-morte foi de alta frequência,
        
        
          excedendo os níveis encontrados durante o estado
        
        
          de vigília consciente, o que poderia demonstrar que
        
        
          a privação de oxigênio e glicose estimula a atividade
        
        
          cerebral. Como não existem provas sobre a causa
        
        
          e o significado desses fenômenos, a comunidade
        
        
          científica se divide em classificar as EQM das mais
        
        
          variadas formas, desde alucinações até complexos
        
        
          fenômenos biológicos. As muitas teorias vigentes se
        
        
          dividem basicamente entre os que acreditam que
        
        
          as EQM são reações encefálicas à isquemia (visão
        
        
          monista) enquanto há quem as interprete como prova
        
        
          de que a consciência não é produzida pelo cérebro e
        
        
          de que existiria vida após a morte (posição dualista).
        
        
          
            ESTILO DE VIDA
          
        
        
          A referida pesquisa, recentemente publicada, reforça
        
        
          a primeira hipótese.
        
        
          Referências:
        
        
          1. Borjigin J, et al. Surge of neurophysiological coherence
        
        
          and connectivity in the dying brain. Proc Natl Acad Sci U
        
        
          S A. 2013;110(35):14432-7.
        
        
          2. van Lommel P, et al. Near-Death Experience in
        
        
          Survivors of Cardiac Arrest: A prospective Study in the
        
        
          Netherlands.  Lancet. 2001; 358(9298):2039-45.
        
        
          3. Moody Jr RA. Vida depois da Vida. Editora Nórdica, São
        
        
          Paulo, 1975.
        
        
          
            Experiências de quase-morte
          
        
        
          
            Relatos de pessoas que estiveramentre a vida e amorte continuama desafiar a ciência
          
        
        
          
            ESQUINA CIENTÍFICA
          
        
        
          Luís Beck da Silva |Co-editor
        
        
        
          
            Cardiologia da Mulher
          
        
        
          
            Diabetes anula as diferenças sexuais e agrava risco
          
        
        
          
            cardiometabólico emmulheres na pós-menopausa
          
        
        
          Estudo analisa os efeitos do gênero e menopausa nos
        
        
          riscos cardiometabólicos, em pacientes com DM tipo
        
        
          II, levando em conta medidas antropométricas, PA,
        
        
          circunferência da cintura, marcadores bioquímicos,
        
        
          inflamatórios e pró angiogênicos. Com população de
        
        
          74 voluntários e 110 pacientes com DM, o estudo sugere
        
        
          que DM anula os efeitos protetores do gênero feminino
        
        
          nas não diabéticas em comparação aos homens; e
        
        
          as pós-menopausa diabéticas apresentam pior perfil
        
        
          cardiometabólico, incluindo esboço lipídico mais
        
        
          aterogênico. Os tradicionais fatores de risco CV falharam
        
        
          para explicar tais diferenças, esclarecendo-se melhor pelos
        
        
          fatores não clássicos: subconteúdo de HDL-c, mediadores
        
        
          de inflamação e angiogênese:  FNT alfa, PCR us,
        
        
          ácido úrico e FCEV.
        
        
          
            Fonte:
          
        
        
          Cardiovascular Diabetology
        
        
          
            Referência:
          
        
        
          Cardiovascular Diabetology 2013, 12:61
        
        
          
            Orlando Medeiros
          
        
        
          Presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher
        
        
          
            Nota do Editor
          
        
        
          A partir de outubro, a coluna “Estilo de Vida”
        
        
          passará a ter um novo editor. O colega Marco
        
        
          Mota substituirá Marcus Malachias, que
        
        
          se despede da coluna que idealizou e que
        
        
          conduziu com brilhantismo.
        
        
          Nessa oportunidade, o
        
        
          Jornal SBC
        
        
          agradece
        
        
          ao editor que colaborou ativamente para
        
        
          o engrandecimento desse jornal, com
        
        
          orientações perfeitas e precisas, ao longo de 20
        
        
          edições ininterruptas.
        
        
          Fábio Vilas-Boas
        
        
          Editor do Jornal SBC 2012-2013