Jornal SBC 142 | Maio 2014 - page 30

Jornal SBC 142 · Maio · 2014
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Aimportânciadeumprojetopara viver a longevidade
A sociedade em que vivemos
nos prepara essencialmente
para o mundo do trabalho.
Os europeus dividem a vida
naquilo que eles chamam
de três fases: 1) Preparação
para o trabalho, onde toda
preocupação no processo
educativo da criança está
focada no acesso ao mundo do trabalho; 2) Período
destinado ao trabalho, que se refere ao tempo em
que nos vinculamos às organizações ou qualquer
atividade que tenha um caráter produtivo; e 3) Etapa
do pós-trabalho, que corresponde ao período da
aposentadoria.
Foi a partir dessa constatação que no início da década
1980 iniciamos, no Brasil, os programas de pós-
carreira, ou seja, preparação de profissionais para uma
aposentadoria produtiva e que preserve a autoestima.
Desde a infância somos educados para termos
uma carreira, sucesso, e sermos permanentemente
produtivos. E isso funciona relativamente bem até o
momento de transição que se inicia na meia-idade.
Quando se aproxima a fase de aposentadoria, em
que as pessoas imaginam que “desfrutar” é seu único
objetivo, defrontam-se com a dura realidade que não
se prepararam para isso.
Tendem a perder sua autoestima e a sentirem-se
inúteis no contextoda sociedade. Esse sentimento
de frustração decorre de um processo cultural
que supervaloriza o jovem, a carreira, o trabalho
e o sucesso.
Encarar a terceira idade de maneira positiva requer
estar preparado para ela. É a fase em que os filhos
já saíram de casa, os amigos começaram a morrer, o
interesse pela(o) parceira(o) pode diminuir, a energia
já não émais amesma. Mas, emcontrapartida, temos
muito mais experiência da vida e podemos encará-la
de maneira mais realista e menos estressante.
É vital desenvolver umprojeto de vida que contemple
tudo isso. Buscar uma atividade que o mantenha em
movimento, sentindo-se útil à sociedade e obtendo
recompensas, sejam elas de cunho material, sejam
de reconhecimento; estabelecer com a(o) parceira(o)
uma forma efetiva e adequada para o novomomento
de vida, pois agora “o ninho está vazio” e precisam
descobrirnovasformasdeenamoramento;estabelecer
novos relacionamentos ou preservar os antigos, mas
sempre dentro de uma perspectiva positiva, não
apenas para conversar sobre os problemas da vida;
cuidar de si mesmo, tanto física como espiritualmente,
nãodesprezandoaaparênciaexternanemasquestões
interiores, sejam elas psicológicas ou biológicas; criar
novos interesses como forma de passar o tempo ou
até mesmo resgatar antigos.
É importante considerar que a velhice não é só o
momento que nos aproxima da finitude. É uma nova
fase e poderá ser tão plena, bonita e gostosa como
as anteriores, ou, quem sabe, muito melhor. A teoria
de Darwin, explicando a evolução humana, previa a
sobrevivência dos mais adaptados. Nossa inteligência
nos possibilita que nos adaptemos às mais diversas
condições. Vivemos um novo momento que nos
propõe umdesafio: adaptarmo-nos a umdos grandes
ganhos da humanidade: anos de vida.
Para isso é vital ter um projeto de vida voltado para
esses anos que ganhamos dentro dessa fase que nos
parecenova,mas énelaquepassamos a ser chamados
“velhos”!
Renato Bernhoeft
é conferencista internacional e consultor de
empresas nas áreas de profissionalização e sucessão de empresas
familiares, formação de sucessores, programas de pós-carreira e
parceiro da Angatu IDH em programa de Pós-Carreira.
Opinião
Renato Bernhoeft
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