Houve época em que o médico sozinho tomava decisões e
os doentes o seguiam. Com o advento das especialidades
as responsabilidades são divididas. Na cardiologia surgiu
a “equipe cardiológica”, muito útil quando tratamento
clínico, intervenções percutâneas ou cirurgias podem ser
opções razoáveis. A “equipe cardiológica” evita viéses das
indicações preferenciais.
Outra tendência é a decisão compartilhada com o próprio
paciente. A internet democratizou o conhecimento médico;
qualquer leigo pode acessar o Google e “aprender” sobre
sua doença. Uma vantagem é que o conhecimento do leigo
pode ajudar na aderência ao tratamento. Uma desvantagem
é que o conhecimento na internet não é profundo, nem é
sujeito a crítica. É uma sinopse geral; mas a medicina não
é feita na média; é aplicada individualmente.
Por outro lado, é direito do paciente inteirar-se do seu
problema, das implicações dos exames propostos e
das opções de tratamento Para decidir ele precisa de
informações claras, compreensíveis. Não raro a melhor
conduta não é clara. É o caso dos cânceres de próstata,
pequenos não invasivos. Não há consenso sobre a melhor
conduta: cirurgia, radioterapia ou simples observação. Na
cardiologia não é diferente, especialmente nas indicações
de angioplastias ou cirurgia.
Por isso a decisão compartilhada com o paciente se
justifica. Afinal quem corre o risco é o paciente, não o
médico. Decisão compartilhada que dizer com informações
corretas, inclusive complicações de procedimentos.
Isso, no entanto, não significa deixar por conta do doente
a decisão final sobre um problema que ele não conhece,
e que o afeta emocionalmente. Creio que o médico deve
deixar claro qual a sua recomendação, explicando por quê.
Mas ao mesmo tempo ouvindo e respeitando a preferência
do paciente. O dogmatismo deve sempre ser evitado.
Decisão Compartilhada
Relação Médico/Paciente
por Protásio L. da Luz
Protásio Lemos da Luz
é professor sênior de Cardiologia do InCor da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP
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