Jornal SBC 166 | Maio 2016 - page 34

Protásio Lemos da Luz é professor sênior de Cardiologia do InCor
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP
Relação Médico Paciente
por Protásio Lemos da Luz
Um ditado antigo diz sobre novos remédios: “Não seja o primeiro a usar nem o último a abando-
nar”. Novos avanços tecnológicos e conceituais hoje surgem numa velocidade sem precedentes.
Exemplos são a troca de valva aórtica por cateter (TAVI), ablação para fibrilação atrial e novos an-
ticoagulantes. Nesse cenário há certo dilema para o médico: aderir ao novo e parecer moderno
ou permanecer com o tradicional e correr o risco de ser visto como desatualizado.
O novo sempre necessita do teste do
tempo para se firmar; alguns logo são
aceitos e viram rotina. Exemplos disso
são as várias intervenções cirúrgicas
por vídeo, como a colecistectomia.
Em
outras
circunstâncias
o
problema é bem mais complexo:
há uma curva de aprendizado, há o
aperfeiçoamento das tecnologias, e
com isso uma tendência a se expandir
as indicações. Tipicamente isso está
ocorrendo com o TAVI: começou
com indicação exclusiva para casos
com alto risco cirúrgico e agora está
sendo usado em casos de risco bem
menor. O mesmo pode-se dizer da
ablação na fibrilação atrial, muitos já
consideram o tratamento preferencial.
Do lado mais conservador há o
argumentodeque longasexperiências
bem-sucedidas merecem respeito,
e mudanças nem sempre significam
melhorias.
Onde está o ponto de equilíbrio? É
praticamente impossível ter certeza.
Mas alguns conceitos podem ajudar:
1) não se deve ser a priori contra
as inovações; 2) deve-se analisar
a origem das mudanças: são
estudos randomizados, confiáveis
ou apenas opiniões? 3) o sucesso
de intervenções é diretamente
dependente da experiência de quem
faz. É obrigatório em intervenções
novas que se opte por serviços
com experiências; 4) é preciso
seguir a evolução temporal de
novos procedimentos. Alguns se
consolidam com o tempo, outros
não; 5) autorreferências sempre têm
vieses por interesses; 6) finalmente,
o médico não deve guiar-se por
modismos, e sim por evidências
científicas sólidas; uma vez que
essas existam não se deve hesitar
em adotar o novo.
Avanços tecnológicos
– uma apreciação
34
1...,24,25,26,27,28,29,30,31,32,33 35,36,37,38,39,40
Powered by FlippingBook