Jornal SBC 133 | Agosto 2013 - page 18

Jornal SBC 133 | Agosto 2013
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De repente, a passividade
do
povo
brasileiro
chegou ao limite e quase
que
espontaneamente
surgiram de todas as partes
manifestações de repúdio
à corrupção desenfreada,
à política de conchavos,
à falta de segurança, à
educação pífia e, entre
tantas reinvindicações de
todas as ordens, ao caos
da saúde pública. O clamor
das redes sociais ganhou as
ruas e acendeu nossas esperanças de construirmos um
país melhor, uma saúde melhor. Mas essa esperança
tem sido sufocada por pronunciamentos e medidas
oficiais desconectados da realidade nacional. As novas
medidas refletem mais uma tentativa de abrandar a ira
da população do que o real compromisso com a busca
de soluções para o problema. Felizmente, a resposta das
entidades médicas, incluindo a SBC, tem sido de rejeição
a tais determinações
A história é complexa
Segundo a OMS, no Brasil apenas 8,7% do orçamento
federal são destinados à saúde. Um percentual bem
menor do que a média dos países africanos (10,6%)
e a média mundial (11,7%). Em comparação, a
Argentina investe 20,4%; o Chile, 15,1%; a Colômbia,
18,5%; enquanto a China gasta 12,5% e os Estados
Unidos, 19,5% de seus orçamentos em saúde. O
governo assume apenas 46% dos gastos, uma
vez que os demais 54% cabem ao setor privado. É
importante lembrar que a saúde suplementar assiste
a 25% da população, enquanto os demais brasileiros
dependem integralmente do SUS. O atual gasto anual
com a saúde de cada brasileiro é de R$ 954 (ou US$
477), muito inferior à média mundial (R$ 1432 ou US$
716). De repente, para conter a indignação nacional
com os RS 15 bilhões gastos com a preparação para
as copas de futebol, o governo anuncia que investirá
outros R$ 15,8 bilhões na saúde até 2014! Se esses
recursos existem, onde estavam que até então não
haviam sido aplicados?
Vagas de medicina
Em relação à possibilidade de novas vagas nas
universidades a questão é tambémdelicada. No Brasil há
209 cursos de medicina; o 2
o
lugar mundial em número
de faculdades, só perdendo para a Índia. Há 70 pedidos
de abertura de novas escolas aguardando o aval doMEC.
Em 2000, tínhamos 100 escolas. Já em 2010, o número
subiu para 181. Em 2011, o MEC suspendeu 514 vagas
oferecidas em 16 cursos de medicina por resultados
insuficientes no Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes (Enade). Para se criar as 11.400 novas vagas,
em cinco anos, seria necessário aumentar a capacidade
das faculdades – muitas delas consideradas ineptas – e
aceitar o registro de outras tantas, criando assim 100 a
200 novas escolas médicas! Mas com que qualidade de
ensino? Com que professores e estrutura?
Mais médicos
E os novos médicos a serem contratados para o trabalho
emáreas carentes? Que condições os novos profissionais
encontrarão ao chegarem às suas unidades de saúde em
setembro próximo? E se a infraestrutura e as condições
de trabalho são um desafio para os nossos jovens
doutores, imaginem para médicos estrangeiros, não
qualificados e sem fluência na língua portuguesa? Como
ESTILO DE VIDA
se não bastasse, há ainda a nova ideia ditatorial de se
estender a já tão longa graduação em medicina para
oito anos, obrigando os futuros médicos a trabalharem
por dois anos no SUS. É curioso constatar que um país
que não reconhece a validade do ato médico quer
transferir a responsabilidade da solução das mazelas
da saúde apenas para esses tão desprestigiados
profissionais. E por que os usuários do SUS receberiam
assistência de estudantes se para estádios de futebol se
exige o padrão FIFA? Se é para recorrer a atos ditatoriais,
por que não exigir dois anos de trabalhos dedicados
ao SUS de outros profissionais como enfermeiros,
dentistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes
sociais, educadores físicos, farmacêuticos, terapeutas
ocupacionais, nutricionistas etc.? Por que não cobrar o
mesmo de engenheiros e arquitetos para a construção
de casas populares, redes sanitárias e hospitais, além
das tão necessárias reformas das unidades públicas de
saúde e escolas, muitas quase em ruínas em todo o país?
Por que novos advogados, pedagogos, administradores,
economistas e outros tantos profissionais estariam
isentos dessa compulsória açãode reconstruçãodopaís?
Às favas com padrões ONA, ISO e outros? Teríamos um
país-escola
, construído por estudantes! E se todos vão
colaborar, por que não começar com os políticos que,
uma vez eleitos, destinariam dois anos de seus salários
e de trabalho voluntário para hospitais filantrópicos
e ações sociais como pré-requisito para assumirem
seus mandatos? Permitam-me fazer esses exercícios
de reflexão tão estapafúrdios quanto a proposição
governamental aos estudantes de medicina. Nesse
momento em que o país é passado a limpo, espera-se
dos governantes um mínimo de seriedade, sensatez,
comprometimento e probidade. Segundo George
Satayana, “há três tipos de governo: o que faz acontecer,
o que assiste acontecer e, o mais comum, que nem sabe
o que acontece”. Qual é o nosso caso?
Em busca de horizontes para a saúde
Mesmo como clamor das ruas, há poucas expectativas de soluções
“O direito não se impõe somente com o peso dos exércitos.
Também se impõe, e melhor, com a pressão dos povos.”
Rui Barbosa
REGIONAIS
SBC/CE
A Regional realizou nos dias 21 a 23 de agosto, no novo
Centro de Eventos do Ceará, o XIX Congresso Cearense de
Cardiologia. O evento contou com a participação de três
convidadosinternacionaisedeznacionais,alémdedezenas
de convidados locais. Ocorreram concomitantemente o
Simpósio Internacional de Eletrocardiografia e Arritmias
Cardíacas, o SimpósioNacional deHipertensão, o Simpósio
Nacional de ICC e o Simpósio Nacional de Cardiologia da
Mulher. Visite o site do evento emhttp://congresso.cardiol.
br/cc13/. A SBC/CE está lançando sua candidatura para
sediar o Congresso
BrasileirodeCardiologia
de 2016, em Fortaleza,
após a inauguração de
seu Centro de Eventos
com capacidade para
30 mil pessoas. Faz 40
anos que a cidade não
tem a honra de receber
o eventomaior da SBC.
SBC/RJ
O Jornal da Socerj ganhou uma versão eletrônica. A
publicação reformulada está mais moderna e prática
e pode ser acessada através do site da Socerj. O Jornal
contém informações da Sociedade do Estado do Rio
de Janeiro e assuntos de interesse geral, como dicas
de alimentação, artes e turismo. Você também pode
contribuir com o Jornal. Artigos e reportagens de todos
os sócios da SBC podem ser enviados para socerj@
socerj.org.br. Conheça o jornal em
SBC/SP
Durante o XXXIV Congresso da Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo, foi realizado o I Fórum
Permanente de Prevenção – Mais importante do que as
intenções sãoas ações, como tema“Prevençãonacriança
e no adolescente”. O objetivo do debate foi estimular
a promoção de saúde e a prevenção das doenças
cardiovasculares entre os jovens. Todas as propostas –
elaboradas e aprovadas pelos grupos de trabalho do
Fórum – foram incluídas em uma Carta que representa
o marco de referência para as ações de promoção da
saúde e prevenção das doenças cardiovasculares em
crianças e adolescentes. O documento também servirá
como orientação para os próximos passos: um Grupo
de Trabalho apresentará um Plano Estratégico de Ação
para pôr em prática todos os compromissos assumidos
por meio da carta.
I Fórum Permanente de Prevenção foi realizado
durante o XXXIV Congresso da Socesp
Foto:
Divulgação SBC/SP
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