Jornal SBC 158 | Setembro 2015 - page 3

Jornal SBC 158 · Setembro · 2015
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Palavra do Presidente
O 70º Congresso Brasileiro de
Cardiologia repetiu em Curitiba
o sucesso dos nossos eventos
anuais,
analisando
novas
técnicas, drogas e procedimentos
para a prevenção, o diagnóstico
e a terapêutica das doenças
cardiovasculares. Apesar de
valorizadas,
essas
novas
aquisições nem sempre são
custo-efetivas, dependendo de
equacionamentos
científicos
e econômicos para a sua
incorporação clínica.
O ineficiente sistema de gestão da nossa saúde
polariza frequentemente onossopensamento crítico
em uma zona de conforto correta, mas também
monótona, que culpa a reconhecida inadequação
de recursos, como a causa de nossa crise endêmica
assistencial. O sub-financiamento é realmente um
fator limitante, sendo denunciado incessantemente
em todas as ocasiões e fóruns que a SBC tem
oportunidade de debater, como recentemente na
Câmara e no Senado.
Outros fatores devem, entretanto, ser estudados.
A política de reavaliar o emprego apropriado da
nossa tecnologia, evitando exames e procedimentos
desnecessários, deve também se estender para o
aproveitamento das habilidades dos nossos recursos
humanos a serem otimizados e fortalecidos.
O cardiologista com boa formação clínica e
especializada é um dos profissionais que tem um
dos mais amplos leques de atuação em todos os
modelos assistenciais do mundo. A necessidade
inquestionável de formar e instruir bons especialistas
deve ser orientada por programas técnicos, sem
vieses políticos ou corporativos, incentivando a
capacitação em prevenção, métodos de imagem
avançada, terapêutica por cateter e dispositivos
médicos implantáveis (DMI), capazes de oferecer
aumento de oferta e assistência integral com
qualidade, com adoção de boas práticas na sua
indicação e utilização que beneficiem realmente o
nosso sistema de saúde e os nossos pacientes.
A crise atual obriga a reorganização institucional.
A estatura da SBC necessita de regras mais claras
de
compliance
na nossa relação com a indústria,
que ainda não conseguiram ser incorporadas nessa
gestão. A busca incansável e resiliente de inovação,
parceiros e novas fontes de financiamento são
desafios que podem se transformar em grandes
conquistas, como o recém-projeto de Boas Práticas
Clínicas que conseguiu fomento substancial
internacional (American Heart Association - AHA) e
dogoverno(ProgramadeApoioaoDesenvolvimento
Institucional do Sistema Único de Saúde - PROADI-
SUS) e será implementado ainda neste ano.
Apesar de todos esses esforços temos sido pouco
atenciosos com alguns problemas de saúde de
comunidadesmarginalizadas.Naáreacardiovascular
temos, entre múltiplos exemplos, o da Doença
Reumática, que depende da Penicilina Benzatina
para aprevençãomais efetivadedisfunções valvares.
O desabastecimento desse agente apontado
formalmente na audiência pública de 29 de
setembro, demonstra quemesmo soluções simples e
baratas para evitar problemas graves são esquecidas.
Nossa atenção e nosso compromisso com doenças
historicamente negligenciadas necessitam ações
mais afirmativas, como a que faremos nesse caso, de
forma imediata e ampla, com os gestores públicos,
sociedade civil e entidades associativas.
Esses compromissos de cidadania devem ser sempre
reafirmados de forma solidária pela SBC e por todos
os seus associados, para que a nossa atuação seja
sempre apropriada e valorizada e que o cuidado
necessário às situações mais carentes nunca
seja negligenciado.
Grande abraço.
Temas e desafios valorizados, apropriados e neglicenciados
Angelo Amato
Vincenzo de Paola
Presidente da
Sociedade Brasileira
de Cardiologia
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