Coração Valente
Histórias da Cardiologia
por Reinaldo Hadlich
Reinaldo Hadlich é Prof. do Instituto de Pós-gra-
duação Médica do Rio de Janeiro. Presidente do
Centro de Estudos do Instituto Estadual de Cardio-
logia Aloysio de Castro. Vice-presidente do Depar-
tamento de Clínica Cardiológica da Socerj
O colega Salvador Luiz Gomes Fernan-
des nos mandou um relato de Petrópo-
lis (RJ), cidade onde mora e também
onde construiu sua carreira. Salvador
Fernandes foi para os Estados Unidos,
em 1951, fazer residência, já que não
havia por aqui. Ele lembra que a Resi-
dência Médica surgiu apenas em 1953,
em São Paulo, e em 1954, no Rio de
Janeiro.
Desde que retornou ao Brasil, em
1954, seguiu seu caminho em Petrópo-
lis, onde clinicava. Na década de 1970,
adquiriu um pequeno hospital para
tratar os cardíacos da cidade. O local
tinha apenas 16 leitos, mas passou a
ter 55 com a administração saneadora.
Um novo prédio, de sete andares, foi
construído para abrigar o Procor e as
ampliações que viriam.
Salvador Fernandes relata, porém, que
era perseguido pela Ditadura Militar.
Ele acredita que por ter sido secretário
Municipal de Saúde do prefeito Rubens
Bomtempo (pai), que foi cassado por
ser considerado comunista, ficou com
o “mesmo carimbo”. Segundo Fernan-
des, os militares faziam de tudo para
boicotar o Procor, impedindo repasses
da Previdência Social para despesas
com pacientes graves, por exemplo.
Em julho de 1984, o Procor teve que
fechar as portas, e Salvador Fernandes
vendeu o prédio e, com o recurso, inde-
nizou os 80 funcionários e 24 médicos.
Apesar das dificuldades, conseguia
participar de todos os Congressos
Brasileiros de Cardiologia, de 1964 a
2006, e foi o primeiro médico a utilizar
um desfibrilador em Petrópolis. No ano
passado, Salvador Fernandes se apo-
sentou com 66 anos de clínica. Ele se
orgulha em ter conseguido fazer o Pri-
meiro Encontro em Cardiologia de Pe-
trópolis, em 1974, com colegas de São
Paulo e do Rio de Janeiro, além de ter
sido presidente da Sociedade Médica
da cidade, em 1973.
Um perseguido
pela ditadura militar
Salvador Fernandes foi o primeiro cardiologista a
utilizar um desfibrilador em Petrópolis (RJ)
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