Jornal SBC 170 | setembro 2016 - page 26

Coração Valente
Passou por cirurgias nos melhores hospitais de oftalmolo-
gia do Brasil e dos Estados Unidos, mas só recuperou um
quarto da visão direita. “Depois do diagnóstico definitivo,
iniciei a fase de adaptação. Nunca tive grandes problemas
de não aceitação ou depressão. Comecei a adaptação no
Instituto dos Cegos em Fortaleza, onde, entre outras coi-
sas, aprendi Braile. Mas a tecnologia me ajudou muito”,
explica Chaves, que faz acompanhamento periódico com
um ex-colega de medicina que se especializou em oftal-
mologia, Leria Andrade Neto.
Com a ajuda dos amigos Eudesio Nobre e Fátima Pinto,
que sempre estudavam com ele, Chaves terminou a
residência e, em 1992, prestou concurso para trabalhar
no Hospital de Messejana, em Fortaleza. Passou em
primeiro lugar e atende no Ambulatório de Cardiologia
até hoje. Rotina que ele também cumpre no Hospital
das Clínicas da Universidade Federal do Ceará. “Faço
ambulatório com residentes de Clínica Médica e de
Cardiologia. Eles ficam ao meu lado e vão anotando tudo,
além de me auxiliarem com os equipamentos”, ressalta.
E a rotina não para por aí. Também orienta estudantes
internos (do 6º ano de Medicina), dá aula, promove
atividades científicas e participa de sessões clínicas
nos hospitais, onde são apresentados os casos mais
interessantes para todo o corpo clínico. “Este encontro é
fundamental para a troca de experiência, apresentação
de temas atuais e discussão de condutas.”
O médico conta até hoje com a parceria dos amigos
Eudesio e Fátima para se atualizar. Eles se encontram
toda semana para a leitura de textos, trabalhos científicos
e diretrizes. “Vou a dois congressos por ano, o da Socesp
e o da SBC. Não pretendo parar tão cedo. Gosto muito
de dar aulas, aprendo com os alunos. Sem contar que
eles pesquisam tudo para mim. A gente tem que ser
humilde”, conclui.
“Nunca tive grandes problemas de não aceitação ou depressão. Vivo cercado de amigos.”
Cardiologista que
perdeu a visão
antes de concluir a
residência trabalha
em dois hospitais de
Fortaleza
Um coração valente e dois corações solidários
O cearense Roberto Cleidson Chaves aprendeu cedo que viver é superar-se. Ele tinha
26 anos, estava no último ano de residência em Cardiologia – fazia subespecialização
em Ecocardiograma – quando teve descolamento de retina nos dois olhos e perda total
da visão, em decorrência de uma colisão traseira, na BR 116, próximo a Fortaleza.
Voltava para casa depois de um dia de trabalho.
Col. Roberto Cleidson Chaves
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