Todos querem mudanças, mas quem aceita mudar?
Em todos os cenários, da política à economia, mas também
em nossa profissão médica, todos clamam por mudanças.
Mas quem está realmente disposto a mudar? Será
que apenas os outros e não nós mesmos precisamos nos
transformar?
Por que ficar preso às mesmas críticas ao passado em vez
de aproveitar as oportunidades do presente para construir
o futuro? John Kennedy afirmava que “a mudança é a lei
da vida; aqueles que apenas olham para o passado ou
para o presente irão com certeza perder o futuro”. Mas
mudanças, mesmo que sejam para melhor, quase nunca
ocorrem sem inconvenientes. Sobre isso, Oscar Wilde nos
ensinou que “o descontentamento é o primeiro passo da
evolução de um homem ou de uma nação”, revelando o
poder criativo da inquietação. Nesse contexto, um importante
aspecto da mudança é a atitude de se permitir, ou
mesmo o estímulo e a coragem para aceitar e compartilhar
as mutações.
Segundo Érico Veríssimo, “quando os ventos de mudança
sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem
moinhos de vento”. Suas palavras nos remetem
àqueles que preferem resistir e se opor à inexorável evolução,
enquanto outros aproveitam os bons ventos para
voar. A medicina está repleta de exemplos de resistência
às mudanças. Semmelweis, com a antissepsia; Freud, com
a psicanálise; assim como Forrsmann, com o cateterismo
cardíaco, são exemplos, entre tantos outros, de mentes
inovadoras, que em suas épocas encontraram mais obstá-
culos que estímulos, mas cuja genialidade criativa o tempo
soube reconhecer.
“Se queremos progredir, não devemos repetir a história,
mas fazer uma história nova”, dizia Mahatma Gandhi. Contudo,
nem sempre precisamos criar um caminho novo, mas
sim encontrar “um jeito novo de caminhar”, como nos ensinou
o poeta Thiago de Melo. Muitas vezes a transforma-
ção não necessariamente precisa estar no gesto, mas na
mente; não no fato, mas na visão. E foi o próprio Gandhi
quem concluiu que ”temos de nos tornar na mudança que
queremos ver”.
Vivemos um tempo de exacerbado individualismo, da busca
desenfreada de privilégios pessoais em detrimento do
coletivo. Precisamos que o “eu” dê lugar ao “nós”. É preciso
compreender que a trilha compartilhada é mais enriquecedora,
mais solidária e tantas vezes mais profícua. Afinal,
sozinho pode-se chegar até mais rápido, mas em grupo se
chega mais longe.
O mundo, o país, nossa profissão, nossa especialidade e
também a nossa SBC vivem um tempo de novos paradigmas.
Nós, médicos, somos, por natureza, críticos e habituados
a buscar evidências que comprovem a necessidade
de transformações. Pois vem da própria ciência a lição
de Charles Darwin de que “não sobrevive a espécie mais
forte, mas a que se adapta à mudança”.