Jornal SBC 139 | Fevereiro 2014 - page 23

Jornal SBC 139 · Fevereiro · 2014
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RetratodeCardiologista
Você
colega
relaciona-se
com o conhecimento da
Cardiologia,
com
outros
cardiologistas e, obviamente
com os seus pacientes. Não
devem faltar pepinos nestas
situações, ora são artigos com
conclusões conflitantes, ora são
questionamentos do colega
porque não seguiu a diretriz, ora
são insatisfações inexplicáveis de
um paciente mal humorado.
Você se sente confuso muitas vezes, o norte do
caminho não fica claro, o número ano a ano mais
antigo do CRM não evita crises com a Cardiologia,
com colegas e com pacientes.
No apuro, um ombro amigo é bem-vindo. Melhor
se ajudar a evitá-lo. Pelo menos que permita um
alívio.
Quem já teve a experiência do amparo pela
Bioética lhe aconselha, dê as boas-vindas a esta
quarentona que o ajuda a arregaçar as mangas para
enfrentar um conflito ou lhe aplica umas vacinas
para imunizá-lo de certas encrencas.
A Bioética não é uma apólice de seguro, muito
menos hidrante para apagar “incêndios”, mas
posso lhe garantir que ela é muito boa de diálogo.
Aprendi muito com a minha militância na Bioética.
Vou destacar uma. É uma dica para o colega. Seja
um cardiologista-retratista! Dê traços fiéis a tudo
que você capta do paciente, preocupe-se com a
individualização, caso a caso, a “lápis e borracha”.
O cardiologista-retratista ajusta o benefício
conceitual de fármacos e de procedimentos às
realidades de comorbidades e de escolhas do Sr.
João e da D. Maria. Indicações, não indicações e
contraindicações de diretrizes são bússolas para a
enfermidade, mas não são algemas para o paciente.
Captando as nuances da triangulação Cardiologia-
cardiologista-paciente, dando-lhes traços de
autenticidade e de fidelidade, você valorizará o
livre-arbítrio da sua “pessoa física” e lidará melhor
com o poder paternalista da “pessoa jurídica” dos
comitês de diretrizes.
Grande etiopatogenia de angústias éticas da
atualidade, a inovação terapêutica galopante traz
hesitações e inseguranças que exigem a Bioética
em plantão permanente. No ambiente da relação
cardiologista-Cardiologia, a Bioética é a memória-
conselheira sobre a força crítica do tempo, alerta
o cardiologista para ficar atento à possibilidade do
prescrever tornar-se proscrever em futuro nada
distante. Na relação cardiologista-cardiologista, a
Bioética adverte que, à semelhança de leis, o aval
de diretrizes costuma acontecer após o hábito.
Assim, o cardiologista deve dominar zelo e
prudênciapara fundamentar resposta àobservação,
não incomum, de colegas: “Mas esta sua conduta
está nas diretrizes?!”. Na relação cardiologista-
paciente, a Bioética credita alto valor ético ao
redesenho sensível à evitação individualizada de
males e à correção dos provocados. Ademais,
a Bioética sinaliza que as experiências de
enfermidade modeladas numa forma biocultural
num Brasil pluriétnico e multicultural demandam
docardiologista-retratista tonsdediálogoacolhedor
às preferências e aos valores do paciente, essenciais
em prol do consentimento numa primeira fase e
da adesão numa subsequente.
Colega! Adote o
slogan
: Bioética, não vá trabalhar
sem ela!
Por fim, convido cada colega-leitor a
fazer um autoretrato da impressão de
si
mesmo
como
cardiologista-retratista.
Aguardo-o em
.
Bioética de Consultório
Max Grinberg
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