Artigo Original
Figueiredo et al.
Depressão maior e síndrome coronariana aguda
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):217-227
Tabela 1 –
Características sociodemográficas e clínicas e de estilo de vida de acordo com presença ou ausência de transtorno depressivo
maior (TDM)
TDM n (%) 82 (23,0)
Sem TDM n (%) 274 (77,0)
Total (n) 356
Sexo masculino*
34 (14,8)
195 (85,2)
229
> 60 anos
34 (19,5)
140 (80,5)
174
Casado***
44 (19,5)
182 (80,5)
226
Escolaridade > 4 anos
40 (21,1)
150 (78,9)
190
Com apoio social
63 (21,8)
226 (78,2)
289
Renda familiar
A (≤ US 615 p.m.)
28 (27,5)
74 (72,5)
102
B (> US615 a US1230 p.m.)
27 (23,1)
90 (76,9)
117
C (> US1230 p.m.)
27 (19,7)
110 (80,3)
137
Fumante
30 (24,4)
93 (75,6)
123
Sedentarismo**
69 (26,3)
193 (73,7)
262
Dislipidemia
40 (26,0)
114 (74,0)
154
HS
58 (23,1)
193 (76,9)
251
Diabetes
23 (22,8)
78 (77,2)
101
História de IAM
20 (20,8)
76 (79,2)
96
História de TDM
33 (53,2)
29 (46,8)
62
Killip ≥ 2
10 (37,0)
17 (63,0)
27
Teste do qui-quadrado de Pearson, p < 0,0001*, p < 0,01**, p < 0,05***, † significância clínica. HS: hipertensão sistêmica; p.m.: por mês; IAM: infarto agudo do miocárdio.
Análise estatística
Empregou-se o teste do qui-quadrado para avaliar a
depend ncia entre TDM e as variáveis sociodemográficas,
clínicas e estilo de vida. O teste de Mantel-Haenszel foi
usado para avaliar a depend ncia entre TDM e as variáveis
sociodemográficas, clínicas e estilo de vida quando
controlados para a variável ‘sexo’. Na análise de resultados,
além da significância estatística (p < 0,05), considerou-se a
significância clínica (0,05 < p ≤ 0,15) como fator que explica
a associação em questão. Usou-se um modelo log-linear de
análise multivariada para avaliar o nível de associação entre
as variáveis de interesse. Usou-se o programa estatístico
R system
, versão 2.1.1.
Resultados
Este estudo avaliou 356 pacientes (229 homens), cujas
idades variaram de 27 a 89 anos, sendo a média e a mediana
de 60 (± 11,42) anos. A idade média para as mulheres foi
de 62 anos, e para os homens, 59, sugerindo que mulheres
tendem a apresentar SCA mais tarde. O tempo médio de
perman ncia na UC foi de 9,7 dias.
Identificou-se a preval ncia pontual para o TDM atual, de
acordo com os critérios diagnósticos DSM-IV, como sendo
23% (82 dos 356 pacientes da amostra).
As características sociodemográficas e clínicas e estilo de
vida foram categorizados pela presença de TDM (Tabela 1).
A prevalência de TDM foi maior nos pacientes ≤ 60 anos
(26,4% x 19,5%), ainda que não estatisticamente relevante.
Com relação ao estado civil, 226 (63,5%) dos pacientes eram
casados ou estavam em uma relação estável, 31 (8,7%) eram
solteiros, 48 (13,5%) eram separados, divorciados ou legalmente
separados, e 51 (14,3%) eramviúvos, sendo a preval ncia de TDM
entre não casados estatisticamente significativa. Houve maior
preval ncia de TDM entre aqueles com escolaridade inferior
a 4 anos e aqueles sem apoio social, mas sem significância
estatística, talvez devido ao tamanho da amostra em questão.
Quanto à renda familiar, o subgrupoA teve 102 (28,7%) pacientes,
28 dos quais (27,5%) eram deprimidos; o subgrupo B teve 117
(32,9%) pacientes, sendo 27 (19,7%) deprimidos; e o subgrupo
C teve 137 (38,7%) pacientes, sendo 27 (19,7%) deprimidos.
Embora sem diferença estatística entre os subgrupos, chama a
atenção a queda progressiva no número de pacientes deprimidos
à medida que aumenta a renda familiar (Tabela 1).
A presença de depressão foi significativamente maior entre
os sedentários, mas não entre os fumantes, dislipid micos,
diabéticos e hipertensos, nem entre aqueles com história
de IAM. A classe Killip ≥ 2 apresentou maior prevalência
de TDM, sendo clinicamente relevante. Houve 62 (17,4%)
pacientes com história de TDM, 33 dos quais (53,2%) eram
deprimidos, e isso foi estatisticamente relevante (Tabela 1).
Em resumo, nesta análise inicial, as variáveis sexo, estado
civil, sedentarismo, classe Killip ≥ 2 e história de TDM
mostraram associação significativa com TDM no evento-índice
de SCA (Tabela 1).
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