Artigo Original
Bittencourt et al.
Células endoteliais, micropartículas e corredores
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):212-216
Discussão
O presente estudo revelou que a exposição cr nica ao
treinamento em corredores profissionais esteve associada com
porcentagens aumentadas de CPEs circulantes sem alterações
na quantidade de MPEs ou MPPs. Esses achados sugerem que
o exercício cr nico não se associou com apoptose de células
endoteliais ou trombose nesses indivíduos. De fato, parece haver
exercido um papel protetor, considerando-se o aumento nas
CPEs. Em nossos atletas, as amostras de sangue foram coletadas
durante seus programas de treinamento de rotina, uma vez que
nosso objetivo foi avaliar CPEs e MPs no contexto da vida real
desses indivíduos.
Vários fatores de risco cardiovasculares, incluindo diabetes,
3
hipertensão,
16
tabagismo,
17
hipercolesterolemia,
18
e idade
19
foram
relacionados à disfunção de CPEs. Por outro lado, o exercício foi
reconhecido como uma ferramenta promissora para aumentar
os níveis deMPEs.
20,21
Estudos experimentais e clínicos iniciais
22,23
relataram CPEs aumentadas após a prática regular de exercício,
apesar de os efeitos dos exercícios sobre CPEs parecerem ser
influenciados pelo regime de treinamento, idade dos indivíduos,
e presença de doença cardiovascular, tais como doença arterial
coronariana e insufici ncia cardíaca.
20
MPEs circulantes foramassociadas a vários estímulos, incluindo
a transcrição de interleucinas, quimiocinas e quimioatraentes, e
ao estresse oxidativo.
8,24
Todas essas condições estão associadas a
fatores de risco cardiovascular clássicos mas, mais recentemente,
novos efeitos biológicosmediados pelasMPEs foramconsiderados,
incluindo transporte de RNAm, micro-RNAs e outras moléculas
ativas, de importância fisiológica para a angiog nese e reparo
tecidual.
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A ativação celular e a apoptose estão associadas à liberação
de MPs. Particularmente, a quantidade de MPPs foi considerada
como umpossível marcador de trombose, dada à quantidade de
fosfolipídios dessas partículas e potencial papel pró-trombog nico
pela produção de trombina.
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Além disso, uma tensão de
cisalhamento elevada leva à agregação plaquetária e liberação de
MPs derivadas de plaquetas.
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Alémdisso, MPPs podem carregar
fator tissular, o qual também pode produzir trombina e ativação
plaquetária. No entanto, também é verdade que as MPs podem
transportar alguns inibidores da coagulação, tais como inibidor
da via do fator tecidual (TFPI) que pode neutralizar, em parte, as
propriedades pró-coagulantes dessas MPs.
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Mais recentemente,
foram propostos aspectos interessantes que ligam MPPs à
sinalização de resposta imune e inflamatória, considerando fatores
transcricionais potenciais nas plaquetas, que incluem o fator
nuclear kappa B (NF-kB) e receptor ativado por proliferadores
de peroxissoma gama (PPAR-
γ
).
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Emnosso estudo, encontramos porcentagens aumentadas de
CPEs nos atletas, e quantidades semelhantes de MPEs e MPPs
em comparação a indivíduos controles, apesar do treinamento
intensivo desses indivíduos. Esses resultados promissores são
importantes, uma vez que nosso entendimento sobre o papel
do exercício sobre CPEs e MPs deriva-se principalmente
da exposição aguda ao exercício ou em indivíduos não
atletas.
10,11,30,31
O exercício intermitente e de alta intensidade
induz a liberação de catecolaminas e reduz células T altamente
diferenciadas, mas não aumenta a quantidade de CPEs quando
comparado ao exercício contínuo.
33
Em outro artigo, apesar do
aumento na contagemglobal de leucócitos, não houve alteração
no número de CPEs em corredores maratonistas de idade
avançada, quando coletados no período precoce após a corrida.
33
Além disso, entre outras variáveis bioquímicas, os níveis
de proteína C reativa foram mais baixos nos atletas que nos
controles, e os níveis de creatinofosfoquinase um pouco
aumentados, apesar do treino de rotina no dia anterior à
coleta de amostra, o que reforça as propriedades protetoras
do exercício de alto desempenho.
Limitações do estudo
Apesar de ser um estudo transversal, de caso controle,
nossos resultados não podem ser considerados como
geradores de hipótese, uma vez que não temos dados
laboratoriais basais dos atletas. Além disso, esses resultados
são aplicáveis aos maratonistas, e não podem ser extrapolados
a outros esportes.
Conclusões
O exercício cr nico foi associado com um aumento
favorável nos níveis de CPEs, sem afetar os níveis de MPs
circulantes em corredores profissionais, sugerindo um impacto
positivo da exposição prolongada ao exercício cr nico nesses
biomarcadores vasculares.
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da pesquisa: Izar MCO, Fonseca
FAH; Obtenção de dados: Bittencourt CRO, França CN,
Schwerz VL; Análise e interpretação dos dados e Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual
importante: Bittencourt CRO, Izar MCO, França CN, Schwerz
VL, Póvoa RMS, Fonseca FAH; Análise estatística: Bittencourt
CRO, Izar MCO, França CN, Fonseca FAH; Obtenção de
financiamento: Fonseca FAH; Redação do manuscrito: Izar
MCO, França CN, Póvoa RMS, Fonseca FAH.
Potencial conflito de interesses
Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.
Fontes de financiamento
O presente estudo foi financiado pela FAPESP e
parcialmente financiado pela CAPES.
Vinculação acadêmica
Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Célia
Regina de Oliveira Bittencourt pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
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