Artigo Original
Figueiredo et al.
Depressão maior e síndrome coronariana aguda
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):217-227
Para avaliar o poder da associação no modelo log-linear,
escolhemos representá-lo nas Figuras 1 e 2, com uma linha
grossa que afina à medida que o poder da associação
progressivamente diminui de acordo com as estimativas dos
(
λ
’s) parâmetros do modelo log-linear.
Para realizar a análise multivariada, usamos o modelo log-
linear que permite avaliar as associações de todas as variáveis
em conjunto. Descobrimos relação direta entre a variável TDM
e sexo, idade ≤ 60 anos e estado civil. Outras variáveis foram
relacionadas ao TDM condicionado a uma ou mais variáveis
diretamente relacionadas ao TDM (Figura 1).
Além disso, descobrimos que o poder da associação foi
maior (linha mais grossa) entre TDM e história de TDM
(
λ
= 17,387) e TDM e sexo (
λ
= –11,755), e mais fraco
(linha mais fina) entre TDM e sedentarismo (
λ
= 0,6026), e
muito mais fraco (linha fina) entre TDM e idade ≤ 60 anos
(
λ
= 0,3886). Sexo e estado civil (
λ
= –16,320) associaram-se
fortemente (linha mais grossa), enquanto sexo e sedentarismo
associaram-se menos fortemente (linha mais fina) (
λ
= 0,7402).
A associação entre TDM e estado civil foi condicionada ao
sexo (Figura 2).
Discussão
Neste estudo, 23% dos pacientes com SCA atenderam aos
critérios para TDM. Tal evid ncia na amostra de pacientes
coronarianos assemelha-se à relatada na literatura internacional,
tendo implicações prognósticas que mostram um aumento na
mortalidade por todas as causas e na mortalidade cardiovascular
entre 12 meses e 5 anos após o evento-índice de SCA, mesmo
quando se avalia TDM.
14‑17
É importante notar que neste
estudo, manteve-se o uso de um instrumento diagnóstico
de medida – Entrevista Clínica Estruturada do DSM-IV – que
difere das escalas de rastreamento, e do critério de tempo para
diagnosticar TDM, o que significa que todos os pacientes que
atenderam aos critérios de TDM/DSM-IV já eram deprimidos
por ocasião do evento coronariano. Observou-se, assim,
uma preval ncia de TDM muito mais alta do que aquela da
população geral, sugerindo a exist ncia de fatores comuns
compartilhados pelo desenvolvimento de TDM e SCA.
Um estudo
9
indicou a desigualdade social, em especial no
tocante à educação, e comorbidades como fatores presentes e
associados com depressão e SCA. Por outro lado, TDM e SCA
parecem compartilhar biomarcadores inflamatórios, como as
citocinas, além de alterações no estresse oxidativo, alterações
plaquetárias e reatividade vascular, comuma gama de interações
biológicas complexas até então não totalmente entendidas.
18-20
A taxa de depressão relatada entre mulheres varia de
1,5 a 3 vezes a dos homens.
21,22
Tal diferença foi observada
neste estudo, onde a taxa de TDM dos homens foi 14,8% e
a das mulheres, 37,8%. Na análise descritiva controlada por
sexo, as mulheres apresentaram risco 3,5 vezes maior de
desenvolverem TDM do que os homens. As razões para a
maior suscetibilidade das mulheres ao TDM em comparação
aos homens permanecem obscuras, a despeito dos estudos
23
relatando uma associação entre o fator da personalidade
‘neuroticismo’ (mau humor, preocupação e nervosismo) e
sexo feminino e depressão mais grave.
Ainda importante notar o fato de termos encontrado uma
maior taxa de depressão em pacientes de ambos os sexos
≤ 60 anos, que coincide com os achados de outro estudo.
24
Deve-se lembrar de que essa é a fase mais produtiva da
vida, sendo ainda cedo para que os indivíduos passem por
experi ncias subjetivas de limitações ou ameaças às suas
vidas, ou experi ncias objetivas que suscitem preocupações
com responsabilidades sociofamiliares, tornando-os mais
suscetíveis à depressão.
O estado civil influenciou a taxa de depressão de pacientes
com SCA.
25
Omodelo log-linear tambémmostrou haver uma
associação entre a variável ‘estado civil’ e TDM condicionada
ao sexo. O que se pode inferir disso é que essa associação se
refere aos indivíduos não casados e às mulheres, que, como
já mencionado, mostraram maior tend ncia ao TDM do que
os indivíduos casados e os homens.
Com relação à escolaridade, é importante notar que
tal amostra, proveniente de hospitais públicos e, portanto,
tendendo a classes de nível socioecon mico menos
Figura 1 –
Representação gráfica do modelo log-linear demonstrando a interdependência entre as variáveis sociodemográficas e os poderes de associação sem
história de transtorno depressivo maior (TDM). EstCiv: estado civil; RF B: renda familiar B (US 615-1230 por mês); RF C: renda familiar C (> US 1230 por mês).
TDM
RF C
RF B
Escolaridade
Idade ≤ 60 anos
Tabagismo
Sexo
Apoio
social
EstCiv
Sedentarismo
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