ABC | Volume 108, Nº3, Março 2017 - page 40

Artigo Original
Figueiredo et al.
Depressão maior e síndrome coronariana aguda
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):217-227
Figura 2 –
Representação gráfica do modelo log-linear demonstrando a interdependência entre as variáveis examinadas e o poder de associação. TDM: transtorno
depressivo maior; EstCiv: estado civil; Sedent.: sedentarismo; hTDM: história de TDM.
hTDM
TDM
EstCiv
Idade ≤ 60 anos
Sedent.
Sexo
privilegiado, apresentava, como esperado, mais baixo nível
de escolaridade. As mulheres tinham nível de escolaridade
inferior ao dos homens, apresentando as do subgrupo menos
escolarizado discreta maior probabilidade de se tornarem
deprimidas do que as com nível de escolaridade maior, o que
não ocorreu com os homens. Mulheres commenos educação
formal e maior foco em suas famílias está de acordo com a
menor oportunidade de estudo dessa geração.
A espécie humana, essencialmente gregária por natureza,
precisa de companhia, que em geral constitui parte da
rede social de apoio. O adoecimento e a hospitalização
produzem sofrimento, isolamento e sensação de solidão por
estar longe de casa, do trabalho, dos amigos e da família.
Tal rede social de apoio é importante, pois, não raro, é
nela que o indivíduo doente e hospitalizado busca apoio
emocional. Houve associação entre apoio social percebido
e menor reatividade cardiovascular em indivíduos com
depressão e SCA,
26
com redução da mortalidade cardíaca.
20,27
Neste estudo, descobrimos que pacientes sem apoio social
tendem à depressão mais frequentemente do que aqueles
que dele desfrutam, embora sem diferença estatisticamente
significativa. Ao se controlar a análise por sexo, tal tend ncia
manteve‑se verdadeira para os homens sem apoio social, que
apresentaram probabilidade 2,5 vezes maior à depressão do
que aqueles com apoio social.
As taxas de depressão conforme a renda foram similares
àquelas da amostra global, embora tenha caído de 27,5%
para 19,7% à medida que a renda familiar cresceu, sugerindo
que os estratos de renda mais baixos t m maior tend ncia
à depressão, embora sem diferença estatisticamente
significativa. Ao se controlar a análise por sexo, o subgrupo
feminino apresentou uma mudança, com as taxas mais altas
de depressão mantendo-se estáveis nas classes de mais baixa
renda e intermediária (37,8% e 35,3%), elevando-se apenas
discretamente na classe de maior renda familiar (41,9%).
No subgrupo masculino, as taxas foram muito mais baixas
e relacionaram-se de maneira inversa com as do subgrupo
feminino, tendo caído (19,3%, 13,6% e 13,2%), embora
sem diferença estatisticamente significativa. As mulheres de
mais alta renda tenderam à depressão com mais frequ ncia,
embora de forma apenas discreta, ao contrário dos homens,
provavelmente porque as causas da depressão relacionadas
a essa variável sejam distintas entre os sexos.
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Na amostra global, observamos maiores taxas de depressão
entre indivíduos sedentários do que não sedentários, sendo
a associação estatisticamente significativa. Ao se controlar
a amostra por sexo, a significância estatística caiu, mas
a associação permaneceu relevante devido ao subgrupo
masculino, onde os homens sedentários apresentaram
probabilidade 2,5 vezes maior de se tornarem deprimidos do
que os não sedentários. Isso é compreensível, uma vez que
os sintomas de depressão poderiam explicar a maior taxa de
sedentarismo entre homens deprimidos.
29
A significativa associação observada entre pacientes com
TDM e presença ou aus ncia de história de TDM corrobora
os achados de outros estudos.
1,2,4,22,30
Isso não surpreendeu,
pois espera-se uma taxa de 50% de recidiva de TDM após um
episódio inicial, independentemente do sexo. Damesma forma,
uma história de TDM refletiu-se no subgrupo feminino, cuja
probabilidade de se tornar deprimido foi cerca de 4,5 vezes
maior, e no subgrupo masculino, onde tal probabilidade foi
cerca de 6 vezes maior do que a daqueles que nunca tiveram
TDM, um achado de extrema importância clínica.
Implicações clínicas
A principal característica desta análise multivariada foi a
capacidade de avaliar a interdepend ncia de várias variáveis
indistintas; isso é, o fato de que todas as variáveis são ‘de
resposta’ concede a elas a mesma importância e aumenta
a probabilidade de serem aplicadas na prática clínica.
Nossos achados indicam a necessidade de uma abordagem
diferente para diagnosticar e tratar TDM em pacientes
femininas com SCA, ≤60 anos e com história de TDM,
sedentarismo e que não estejam em um relacionamento
conjugal estável. As implicações prognósticas de tais achados
necessitam de mais análise em estudos futuros.
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1...,30,31,32,33,34,35,36,37,38,39 41,42,43,44,45,46,47,48,49,50,...108
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