Artigo Original
Faria et al.
Exercício agudo melhora a função endotelial
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):228-236
Introdução
O endotélio vascular é considerado um importante
órgão-alvo na hipertensão arterial.
1
Há vários relatos sobre
o envolvimento da disfunção endotelial na g nese ou
no desenvolvimento de hipertensão arterial, podendo
ser tanto a causa quanto a consequ ncia do problema.
2,3
Na hipertensão arterial, há um desequilíbrio na produção de
fatores endoteliais, com maior produção de vasoconstritores
do que de vasodilatadores. Isso explica o comprometimento
do relaxamento dependente de endotélio em hipertensos,
tanto animais quanto seres humanos.
3-5
A principal causa dessa disfunção endotelial na hipertensão
arterial parece ser a diminuição da biodisponibilidade de
óxido nítrico (NO).
2,3,6
Sabe-se que, ao interagirem com
o NO, os ânions superóxido (O
2
.-
) formam peroxinitrito,
que reduz a disponibilidade de NO para o relaxamento
de músculo liso.
7
Os inibidores endógenos da NO sintase
(NOS) são ainda encontrados no sangue de hipertensos,
sendo o aumento de sua expressão associado com maior
risco cardiovascular.
3
O exercício físico é uma ferramenta importante para o
aprimoramento da função endotelial, pois melhora o equilíbrio
entre a liberação de vasodilatadores e de vasoconstritores.
Já foi demonstrado que os protocolos de exercício cr nico
ou agudo t m importantes efeitos na liberação de substâncias
vasoativas, resultando em melhor controle do t nus vascular
endotélio‑dependente.
8-11
Esses dados, entretanto, referem‑se
ao exercício aeróbio. Portanto, os efeitos de uma única sessão de
exercício resistido na função endotelial são pouco conhecidos.
Demonstramos anteriormente que uma única sessão de
exercício resistido diminuía a reatividade à fenilefrina (FEN) e
aumentava o relaxamento endotélio‑dependente em resposta à
acetilcolina (ACT) na artéria da cauda de ratos espontaneamente
hipertensos (SHR).
12
Cheng et al.
13
demonstraram resposta
similar, entretanto, após exercício aeróbio.
O aprimoramento da função vascular após exercício
aeróbio agudo parece ser mediado pela maior liberação
de NO.
8-11,13
Nossos resultados sugerem que o exercício
resistido agudo também potencializa a produção daquele
agente vasoativo, sendo a resposta associada com a liberação
de prostanoides vasodilatadores. Estudos adicionais são
necessários para esclarecer os mecanismos subjacentes da
função endotelial após exercício resistido agudo.
O presente estudo teve por objetivo investigar a função
endotelial após uma única sessão de exercício resistido em SHR.
Métodos
Animais
Os experimentos foram conduzidos em 22 SHR machos,
pesando 250-300 g e acomodados em ambiente com
controle de temperatura e umidade e ciclos claro/escuro de
12 horas. Os animais tiveram livre acesso a água potável e
receberam ração padrão
ad libitum
. O cuidado e o uso dos
animais e todos os experimentos foram conduzidos conforme
o Guia de Cuidado e Uso de Animais de Laboratório,
tendo os protocolos sido aprovados pelo Comit de Ética
da instituição Escola Superior de Ci ncias da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória, Vitória, ES, Brasil (CEUA- EMESCAM).
Desenho do experimento
Grupos experimentais
Os animais foram submetidos a cirurgia para medida
direta da pressão arterial. Todos os procedimentos cirúrgicos
foram realizados com técnicas assépticas. A anestesia
foi induzida com hidrato de cloral (400 mg/kg, i.p.),
doses suplementares tendo sido administradas se o rato
recuperasse o reflexo de piscar. A artéria carótida esquerda
foi cuidadosamente isolada para evitar dano aos nervos
adjacentes. Uma cânula afunilada de polietileno (PE 50)
contendo solução salina heparinizada (100 unidades/ml) foi
inserida na artéria carótida comum esquerda para medida da
pressão arterial. A extremidade livre do cateter foi conectada
a obturador de aço inoxidável e inserida por via subcutânea
para sair da parte posterior do pescoço. Os animais foram
colocados em gaiolas separadas e deixados para se recuperar
por 24 horas antes de iniciar o procedimento experimental.
Os ratos foram monitorados para sinais de infecção.
A pressão arterial e a frequ ncia cardíaca foram
continuamente registradas nos ratos conscientes antes da
sessão de exercício resistido para confirmar a presença
de hipertensão arterial. Determinou-se a pressão arterial
conectando-se o cateter arterial ao transdutor de pressão,
modelo TSD104A, que foi acoplado ao amplificador DA100C.
Utilizou-se um sistema de aquisição (MP 100 Biopac Sistemas,
Inc., CA, EUA) para registro em tempo real da pressão arterial
e da frequ ncia cardíaca e para análise subsequente.
No dia do experimento, os ratos foram deixados para
se adaptar ao ambiente do laboratório por 1 hora antes da
tomada de suas medidas hemodinâmicas. Após o período
de adaptação, mediram-se os níveis basais de pressão arterial
nos animais conscientes por 10 minutos antes do exercício.
Subsequentemente, os animais foram divididos aleatoriamente
em dois grupos: grupo de exercício (n = 11), cujos ratos foram
submetidos a uma única sessão de exercício resistido; e grupo
controle (n = 11), cujos animais foram submetidos a uma única
simulação de sessão de exercício resistido. Após 10 minutos de
exercício, os animais dos dois grupos foram anestesiados com
tiopental sódico (50 mg/kg, i.p.) e submetidos a eutanásia por
exsanguinação. A aorta torácica foi cuidadosamente dissecada
para análise da reatividade vascular e expressão proteica.
Protocolo do exercício
Inicialmente, todos os animais foram adaptados ao
aparelho de exercício por 4 – 5 dias. Para adaptação, os
ratos foram colocados no aparelho de exercício sem peso
na posição de repouso, e, portanto, os animais não se
moveram, embora tivessem recebido o estímulo elétrico
na cauda. Depois, realizou-se uma repetição do teste
máximo. Determinou‑se que a repetição máxima (RM)
seria o peso máximo levantado por cada rato usando o
aparelho de exercício. Após 2 dias de repouso, os animais
foram submetidos ao protocolo de exercício. Os ratos
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