Representada
por seu presidente, Juarez Ortiz e pelos diretores Emilio Cezar Zilli e
Fabio Sandoli de Brito (atual e futuro diretores de Qualidade Assistencial,
respectivamente), a Sociedade Brasileira de Cardiologia participou do 10º
Encontro Nacional das Entidades Médicas (ENEM), em Brasília.
Em nome dos 283 mil médicos brasileiros, os participantes do ENEM aprovaram
a "Carta dos Médicos à Nação Brasileira". O documento, que se
inicia com considerações sobre o momento político atual e a expectativa
dos brasileiros quanto à construção de um País mais justo, propõe:
1- Uma ampla discussão sobre o Ato Médico, envolvendo a sociedade
brasileira, o Parlamento e o Governo, tendo em vista a necessidade urgente
de definir claramente os atos privativos de nossa profissão e os que podem
ser compartilhados. Os médicos brasileiros defendem a aprovação do
Projeto de Lei do Senado nº 25/2002. A eventual exclusão do médico de
qualquer equipe de saúde compromete a qualidade do atendimento à
população e a garantia de acesso universal à saúde, e indica a
preocupação com a redução de custos, que vem ocorrendo há 12 anos.
2- O fortalecimento da Atenção
Primária à Saúde, enquanto proposta de atenção integral ao cidadão,
garantindo o acesso a todos os níveis de complexidade e resolubilidade,
promovendo a reversão dos baixos indicadores epidemiológicos de saúde e
assegurando a contratação dos profissionais médicos através de concurso
público, com carreira definida, para provimento de cargos dentro do SUS,
incluindo o Programa de Saúde da Família (tema de um projeto de lei que
deverá ser apresentado ao Congresso Nacional, determinando sua
implantação em todos os municípios brasileiros). Além disso, a
Assistência Primária à Saúde deverá contar com um processo de
educação continuada dos profissionais que nele atuam, a fim de garantir
uma atenção de qualidade a todas as faixas etárias da população
brasileira.
3- A implementação, em todos os
Estados da Federação, de um plano de carreira, cargos e salários no
Sistema Único de Saúde. Deverá ser respeitada a complexidade da carreira
do médico, com a necessária diferenciação nas atribuições e
responsabilidades relativas ao exercício de suas atividades profissionais.
4- O estabelecimento de um piso
nacional para a categoria médica, hoje calculado em R$ 2.711,11, para o
período de 20 horas semanais, corrigido pelos índices em vigor.
5- A urgente revisão da política
de criação de cursos de medicina, levando-se em conta a devida
comprovação de sua necessidade social e dos recursos para sua completa
implantação e manutenção. Considera-se fundamental a aprovação de dois
projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Enquanto um
estabelece o caráter terminativo aos pareceres do Conselho Nacional de
Saúde para a abertura de novas escolas médicas, o outro determina a
concessão de período de moratória, sem autorização para a abertura de
novos cursos de medicina.
6- O cumprimento das recomendações
resultantes das avaliações oficiais de desempenho dos cursos de medicina e
o atrelamento das novas escolas à oferta de vagas na residência médica.
7- A implantação da Lista
Hierar-quizada de Procedimentos Médicos, com o objetivo de valorizar o
trabalho médico e regular as relações com as operadoras de planos de
saúde. O Sistema de Saúde Suplementar no Brasil carece de um grande debate
com a sociedade, para que se atinja a satisfação dos 40 milhões de
usuários que dele dependem e dos profissionais médicos que a ele dedicam
os seus serviços.
8- A participação dos médicos em todos os fóruns
de gestão e controle social do SUS. Assim, é fundamental a mo-bilização
durante a preparação do 12º Congresso Nacional de Saúde.
Saúde
Suplementar |
Também
durante o ENEM e na presença de diversos parlamentares médicos, foi
debatido o sistema de saúde suplementar. A rede prestadora de
serviços, que atende 35 milhões de pessoas, já reúne, segundo a
Agência Nacional de Saúde Suplementar, mais de duas mil operadoras
de planos de saúde, milhares de médicos, dentistas e outros
profissionais, além de laboratórios e clínicas. A Câmara dos
Deputados, preocupada com o apuramento dos abusos cometidos pelas
operadoras dos planos de saúde, acaba de anunciar a criação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito, que atuará com esse objetivo.
O
deputado Henrique Fontana, autor da proposta e provável presidente da
CPI dos Planos de Saúde, diz que as principais queixas dos usuários
dos planos de saúde referem-se ao abuso na alegação de doenças
pré-existentes, ao aumento exagerado das mensalidades na mudança das
faixas e-tárias e à limitação do atendimento. Ainda segundo o
parlamentar, o setor movimenta hoje R$ 23 bilhões por ano, quase a
mesma quantia (R$ 25 bilhões) que o Governo Federal destina à Saúde
Pública.
Fontana
acredita também na existência, em algumas empresas, de verdadeira
chantagem de caráter econômico com médicos ameaçados de
descre-denciamento por estarem cumprindo de forma exemplar com sua
função.
Durante
o ENEM, centenas de médicos, incluindo a delegação da SBC,
mantiveram audiência com dezenas de parlamentares, expondo as
dificuldades por que passam os profissionais de saúde, há mais de
sete anos sem qualquer reajuste de honorários.
O presidente da SBC, em
audiência com o Ministro da Saúde na semana seguinte ao ENEM, listou
as reivindicações da sociedade e apresentou um projeto alternativo
para a saúde brasileira. Neste encontro, o Ministro Humberto Costa
foi alertado pela SBC sobre as imensas dificuldades que os médicos
enfrentam com os Planos de Saúde. A SBC deverá convocar uma
Assembléia Geral Extraordinária para avaliar uma proposta de
paralisação nacional dos cardiologistas, caso nenhuma medida efetiva
seja realizada pela ANS.
|
A
"Carta" defende um piso nacional de R$ 2.711,11 para os
médicos, a implantação da Lista Hierarquizada de ..Procedimentos
Médicos e a participação do médico nos ..fóruns
de gestão e controle social do SUS
Novas
escolas médicas
A
reunião realizada no dia 29 de maio terminou com a
discussão de novas escolas médicas, discutindo-se as propostas
pré-levantadas pelas entidades: Conselho Federal de Medicina,
Associação Médica Brasileira, Confederação Médica
Brasileira, Federação Nacional dos Médicos e Associação dos
Médicos Residentes.
Os
participantes do encontro entendem que tanto a qualidade do
ensino como o bom desempenho do profissional dependem do
controle efetivo da abertura de novas escolas. Por essa razão,
é necessária uma atitude mais efetiva e sistemática por parte
dos Ministérios da Educação e da Saúde.
As
entidades médicas consideram absurdo e desnecessário o número
de 119 escolas médicas em funcionamento, formando dez mil novos
profissionais a cada ano. Essas entuidades reivindicam o direito
de participar da definição dos critérios para abertura de
novas instituições. Foi enfatizado que, apenas nos cinco
primeiros meses do ano, mais cinco escolas médicas foram
abertas no Brasil.
As propostas de
moralização do setor, bem como da proibição da abertura de
novos cursos de Medicina durante dez anos estão contempladas em
projeto do deputado Arlindo Chinaglia, que veda igualmente a
ampliação de vagas nos cursos já existentes, única maneira
de proteger a população e os médicos formados em
instituições de bom nível contra a invasão do mercado por
diplomados em cursos ruins.
|
|
|