Morre
precursor no estudo da Hemodinâmica
No
último dia 28 de maio, faleceu aos 76 anos, em Porto Alegre (RS), o
médico e professor Flávio Maciel de Freitas. Vítima de um edema
pulmonar agudo, era viúvo de Léa Centeno de Freitas. Tinha três filhos
e oito netos.
Formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) em 1951, no mesmo ano foi convidado a integrar a
equipe de Eduardo Zacaro Faraco, iniciando uma trajetória
científico-acadêmica reconhecida em todo o país.
Em 1956, estagiou na Fundação Anita Pastore D’Angelo,
em São Paulo, precursora no estudo clínico, hemodinâmico e cirúrgico
das cardiopatias congênitas no Brasil.
Ao retornar a Porto Alegre, montou o primeiro
laboratório de hemodinâmica do Sul do país. Também foi o criador do
Ambulatório Cardiopulmonar, na Enfermaria 38 da Santa Casa de
Misericórdia.
Nesse período, trabalhos de sua autoria foram
publicados em diversas revistas internacionais, como Circulation, Research,
Journal of Applied Physiology e Journal of Clinical Investigation.
No início da década de 1960 estagiou no National Heart Institute, em
Bethesda, Washington. Foi autor de trabalho, publicado em 1964,
descrevendo o primeiro método capaz de
determinar o volume sangüíneo pulmonar pela injeção
de somente um indicador.
Sete anos mais tarde, passou a colaborar com o Hospital
de Clínicas de Porto Alegre, onde foi o primeiro vice-presidente e o
primeiro chefe da Unidade de Hemodinâmica do Serviço de Cardiologia.
Participou, em 1976, da implementação da pós-graduação em
Medicina/Cardiologia da UFRGS, curso que coordenou entre 1984 e 1985.
Em 1996, o Hospital de Clínicas e a Faculdade de
Medicina da UFRGS homenagearam-lhe, dando seu nome ao Anfiteatro do
Serviço de Cardiologia do hospital.
Aloysio Achutti
Professor
Dirceu era um ícone da Propedêutica Cardiológica |
O
falecimento do professor Dirceu Vieira dos Santos Filho, no último
dia 25 de junho, foi uma perda significante da medicina brasileira.
Nascido em 26 de outubro de 1930 em Santos e
graduado pela Escola Paulista de Medicina em 1954, completou o
treinamento nos Estados Unidos de 1959 a 1961 (Universidades de
Tulane, Cornell e Vanderbuilt). Desde 1966, era professor da Escola
Paulista de Medicina, tendo chefiado inicialmente o Setor de
Hemodinâmica e depois o Setor de Ambulatórios, onde desenvolveu a
sua verdadeira vocação profissional como grande clínico e
professor.
Durante quatro décadas, o professor Dirceu foi um dos ícones da
Propedêutica Cardiológica da nossa instituição, discutindo e
examinando diariamente dezenas
de pacientes, com especial atuação em
patologias orovalvares. Nesse longo período, inovações
tecnológicas como cateterismo, ecocardiografia, medicina nuclear,
angioplastia, ablação de arritmias, além de novos paradigmas como
"cardiologia baseada em evidências" e "curriculum
baseado predominantemente em publicações" foram modificando
progressivamente a graduação e a pós-graduação médica.
O ensino médico e a Propedêutica clássica precisavam ser
preservados. A adequação dessas inovações contou na nossa
instituição com o Professor Dirceu que, com a sua impressionante
competência clínica, manteve a importância máxima do ensino da
Propedêutica aos nossos graduandos, residentes e pós-graduandos. O
respeito aos valores humanos e a soberania da história e do exame
clínico ficaram assim preservados
da fortíssima sedução e deslumbramento
tecnológico das propedêuticas sofisticadas, invasivas e
freqüentemente atropeladoras do raciocínio diagnóstico.
A perfeição da história e do exame clínico
foi sempre o objeto da educação médica do professor Dirceu. A
perseverança para obter esses dados era também utilizada no
minucioso acompanhamento dos pacientes internados onde a
valorização da vida estava muito cristalina em todos os seus
ensinamentos. Esta perseverança foi também demonstrada na sua luta
de mais de um ano contra uma doença pulmonar. Viveu e combateu
valentemente a sua enfermidade, mas foi finalmente vencido.
Foram quatro décadas, em que milhares de alunos
e centenas de cardiologistas tiveram o privilégio do convívio e
dos ensinamentos do professor Dirceu. Esses discípulos poderão
continuar a retransmitir de forma especial a importância da
história, do exame clínico e do prontuário médico, vigas mestras
da boa Medicina. Assim, a presença do professor Dirceu, agora
invisível, continuará sendo sentida.
Angelo A. V. de Paola |
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